Carfax, River Raid, Jr Black, Mundo Livre…
Jornal do Commercio – 09.03.2010
Uma nova safra de discos pernambucanos já está no forno
José Teles
Após a inundação de shows, de dezembro a fevereiro, a turma da música desce dos palcos para cair na estrada. E para tal é necessário um novo “cartão de visitas”. Ou seja, um novo disco, o gancho de turnês e shows – no ano passado, foram mais de 50 produzidos por artistas pernambucanos. A banda Carfax está com CD prontinho, Acima do céu, abaixo do chão, que terá show de lançamento este mês. O disco é a sequência do álbum de estreia, O gosto antigo da novidade, com o qual a banda partiu para tentar conquistar o mercado do Sudeste e Sul.
Conseguiram vender toda tiragem do disco, fizeram turnês, festivais, mas foi difícil segurar uma banda inteira na estrada neste tempos difíceis para a música. O guitarrista Pompi passou a tocar também com a River Raid, Iana Reckman voltou para o Recife. O projeto do disco foi aprovado o Funcultura. Está mais bem resolvido do que o anterior, pop/rock de boas letras e melodias três em inglês. o disco está nas lojas, mas não foi lançado ainda.
Jr.Black, também patrocinado pelo Funcultura, faz parte da turma da Aurora – Mombojó, China, etc. No disco de estreia RGB todo mundo participa, ou nas parcerias, ou tocando. Homero Basílio, China, Chiquinho assinam a produção. Jr. Black é uma das apostas para este ano, com um som funkeado, de ótima qualidade sonora. Uma espécie de Ed Motta sem pretensão e cerebralismo. Também não foi lançado oficialmente.
A Mundo Livre S/A começou a gravar no ano passado as primeiras músicas do novo disco e já agendou sua volta ao estúdio. “A gente vai começar esta semana a segunda edição de gravação com Dudu Marote em São Paulo. De segunda a sábado, aproveitando uma série de três shows no Sesc Pompeia”, conta Fred Zeroquatro. O repertório está pronto, 14 canções: “Não sabemos ainda se ficam todas. O perfil deste disco é bem próximo, no clima, do Bêbado groove. Este novo é uma consequência do Bêbado groove. Tem composições bem recentes, do ano passado, e outras que vem da época de Bêbado groove”. Fred 04 não sabe também por qual selo será lançado o novo álbum da banda, que já tem 25 anos de carreira. “Há muitos selos interessados, e do exterior, Portugal, Inglaterra, Estados Unidos, Argentina. A previsão é fazer uma terceira sessão em abril, com Dudu, acho que o disco fica pronto em maio”. Antes o grupo faz uma série de shows no México.
Alaúdes, foles diatônicos, clarinetes, gaitas occitans de Toulouse, cantos polifônicos, banjos e percussões pernambucanas. Alguns dos ingredientes do disco Nordeste Occitan, que Silvério Pessoa finaliza, gravado por ele com participações de bandas do Sul da França, mais dois grupos da Itália, de região próxima ao Sul francês. “O CD é resultado de vários intercâmbios, encontros, shows em conjunto com grupos que valorizam as tradições occitans, tendo a história dos trovadores como eixo que liga a ruralidade francesa e a cultura dos cantadores de viola nordestinos”, explica Silvério. Do disco participam os repentistas Edmilson Ferreira e Antonio Lisboa.
“O CD não soa tradicional, mesmo tendo o acordeom como instrumento de ligação das duas culturas”, diz o cantor. Entre os grupos que participaram do projeto estão o La Talvera (que tocou no ano passado no Recife), Massilia Sound System, Bombes 2 Bal,e o Fabulous Troubadors. A maioria das faixas foi enviada por e-mail para Silvério, num processo de parceria via internet. Este disco talvez nem seja lançado no Brasil. “Estamos planejando reuniões com três selos para lançamento na Europa. É um projeto mais para a Europa que o Brasil. Porém, percebo pelas canções que tem um suingue e levadas que pode ser bem recebido pelo brasileiro”, comenta.
Silvério já trabalha num outro disco, este para ao mercado nacional. O título é No grau. Terá um repertório de inéditas e parcerias com Marco Polo, Zé Rocha, Climério, entre outros: “Tem 14 faixas, que trabalhei no meu estúdio caseiro, o Porongo’s Studios, e agora estou organizado no Muzak”, adianta ele, que pretende lançar No grau no segundo semestre. O Nordeste Occitan chega às lojas em maio.
O cantor China há quatro meses grava seu próximo CD, em dois estúdios, no Muzak e no Caverna. “Ainda gravei umas coisas em São Paulo. Mas o disco ainda está no meio do processo. Deve sair em maio ou junho”, diz China. Assim como quase todos da cena local, ele provavelmente fará mais um álbum independente. “Recebi algumas propostas, mas nada demais. O que as gravadoras me oferecem, eu consigo sozinho. Então, por enquanto, eu mesmo estou bancando meu disco e está valendo a pena, pois posso experimentar mais. Quando o disco ficar pronto vou tentar negociá-lo com algum esquema de distribuição. Além disso, tem o meu selo, o Joinha Records, e o Candeeiro Records, que é um parceiro também. Ainda estou estudando a melhor forma de lançar”, comenta.
Segundo China as novas músicas são mais dançantes, porém com forte pegada roqueira. A independência proporciona também maior liberdade aos músicos para tocar com quem queiram, reforça a brodagem. “A vantagem de lançar um disco solo é que posso contar com todos os meus amigos. Além da minha banda, a H. Stern, o Mombojó, Vitor Araújo, Dengue e a cantora paulista Tiê estão participando. E como tem muita gente gravando comigo, o CD acaba tendo várias referencias, e isso só acrescenta ao meu trabalho, pois todos os amigos tem bom gosto”.
China já está testando o poder de fogo de algumas canções disponibilizando-as na Internet (www.myspace.com/chinaina): “Coloquei as versões demo de Anti-herói e Espinhos para a galera ir conhecendo as músicas, e claro, também dar suas opiniões. E claro, quando o disco for lançado, vou disponibilizar tudo no meu site para download gratuito”. O novo disco de China deve ser lançado até junho e o título, ainda provisório é Só serve pra dançar. “Apesar do mercado está maluco, a música ainda continua servindo para dançar e divertir as pessoas”, justifica.
Dois anos depois lançar TOC – ao vivo no Teatro de Santa Isabel, seu primeiro disco, Vitor Araújo prepara-se para entrar no estúdio, e desta vez para um trabalho de mais fôlego, mais pretensioso, conceitual. “Durante este tempo sem gravar, compus muito material, música suficientes para três discos”, conta o pianista, cujas músicas vão abordar um tema delicado, a paixão, e suas várias nuances, numa abordagem expressionista, como se fosse um Rimbaud da música. “São músicas que evocam a paixão, pessimista, louca. Paixão de fúria, de desespero”. A música que ele tocará para exprimir o abstrato será autoral e de alguns dos seus compositores preferidos, entre estes Villa-Lobos, Lorenzo Fernández e Camargo Guarnieri.
Quando ele fala que tem músicas para uma trinca de CDs não é retórica. O que pretende lançar neste semestre, que abordará a paixão em sua fase de “silêncio e doçura” será o início de uma trilogia, que abordará outras manifestações da paixão orgasmo, catarse, tudo cerzido, explica Vítor Araújo, por uma unidade estética e de concepções. O concerto conceitual do pianista terá sua estreia em Goiás, onde ele se apresenta, dia 9 de abril: “O disco será gravado ao vivo, tem textos também. Algumas músicas terão arranjos para cordas, noutras uso piano com pedaleira de guitarra”. O CD sai com selo da Deck Disc, com quem tem um longo contrato.
Uma pergunta que muitos músicos devem se fazer: gravar disco para quê? Ou não vende quase nada, ou vende muito e acaba na pirataria. Hélder Aragão, ou melhor DJ Dolores tenta explicar o impasse: “O mercado fonográfico vive esse dilema: ninguém compra mais CD, mas os artistas precisam lançá-lo, para ter atenção da mídia, para poder fazer show. Quem banca isso? Nós mesmos!”.
DJ Dolores diz que fala da realidade de artistas de médio porte como é o seu caso: “Os grandes vendedores ainda conseguem a façanha de atingir seis dígitos de venda e manter o modelo antigo funcionando. Para mim, ainda é importante lançar disco, pois a internet tem sido útil para o underground ou os grupos realmente populares de brega e forró”.
Prestes a empreender turnês internacionais (é o artista da cena pernambucana que mais tem tocado no exterior), ele está se preparando para lançar mais um disco, embora 1 Real, seu último CD tenha sido mais badalado lá fora do que no Brasil. Mais uma vez ele vai mexer no time que está ganhando: “Entendo cada disco como um projeto diferente por isso troco sempre os músicos, me dou a liberdade de gravar com pessoas que não estarão no show. Dessa vez estou fazendo um disco bem mais simples, com poucas participações e baseado na banda que tem trabalhado comigo nos últimos tempos”. A única participação confirmada, adianta, é da cantora Badi Assad. Outras novidades do novo disco de Dolores: uma provável edição em vinil, e um pouco do som dos países balcânicos, numa faixa intitulada Zara.
fonte: http://jc.uol.com.br
2 Comments
também tem candeias rock city, que lançará novo ep com seis faixas novas, a banda de joseph tourton, desalma, nuda (que vai deixar muito nego de cara), four pigs, diablo mötor, ex-exus, sweet fanny adams e mais uma caralhada de bandas que ainda devem lançar o disco esse ano. inclusive, também estão melhorando a forma de produção, se preocupando mais com a qualidade da música (assim dizendo de timbragens, texturas, arranjos e qualidade de reprodução sonora) e muito menos com o entretenimento (de apenas fazer pensando no público, apenas no público, esquecendo da música), assim digamos. mesmo sendo outro nicho, comparados aos citados por vocês, vão chegar chegando. :D
Opa José da Silva, agradeço pela citação à Nuda. Quem quiser acompanhar a produção de “A maré nenhuma” pode entrar lá no http://www.turnedanuda.blogspot.com. Desde o começo das gravações tamos postando fotos, vídeos, textos e promoções especiais pra quem acompanha.
Dessa galera que tá gravando e foi citada no teu comentário, ouvi o trabalho da Ex-Exus e chapei pesado. Acho a banda conceitualmente mais forte do Brasil. Alguns amigos em comum disseram que a Candeias Rock City tá com um material novo de cair o queixo. A Banda de Joseph Tourton também tá se dedicando muito às gravinas deve vim pedrada por aí. Ah, e ainda tem Mombojó, que, por “Casa Caiada”, deve estar trazendo mais um grande álbum pra galhere.
Somando esses nomes todos da matéria, do teu comentário e mais alguns que certamente estão gravando caladinhos, além dos recentes lançamentos (como o discasso de Karina Buhr) acho que a safra 2010 da música pernambucana tá em grande momento.