Este texto poderia estar na seção de coberturas do site, mas resolvi puxá-lo para minha coluna.
Até porque fui da forma mais despretensiosa do mundo ver o show do Beeshop ontem, na Nox. Achei, sinceramente, que não haveria nada de muito relevante a ser dito sobre o show. Ou, pior, como não tenho a menor simpatia pelo estilo – emo -, só teria críticas negativas para fazer. Ou seja, fui pego de surpresa. Não pensava em escrever até então.
Normalmente, quando vou para esse tipo de evento, acho a plateia muito mais interessante do que as bandas. Uma gurizada com faixa etária entre 15 e 18 anos que começa a ter um pouco do gostinho de liberdade em eventos criados e pensados para eles. Ainda que alguns tenham a presença dos pais por perto, o que levantou uma questão entre nós depois do show: como tratar esses adultos durante os eventos? Uma senhora, provavelmente acompanhando a filha, ficou escorada numa pilastra durante boa parte dos shows. Talvez não fosse má ideia providenciar cadeiras para os pais sofrerem (ops, verem) mais confortavelmente.
Quando eu tinha 15 para 18 anos, praticamente não existia menina em shows de rock. E as poucas que estavam por lá eram bem feinhas. Ok, não dava para ser muito exigente em shows de metal extremo ou de punk e hardcore. O emo, por pior que seja esteticamente (me refiro ao som), deu a essa geração a oportunidade de curtir um show de rock e paquerar ao mesmo tempo. Há duas décadas, era bem diferente. Ou você levava sua namorada para o show ou saberia – e se contentaria com isso – que seus prazeres estariam restritos “apenas” à música. Isso era uma das minhas broncas com o emo: transformar o rock em produto para toda a família, deixando de lado toda e rebeldia e contestação que sempre estiveram atreladas a ele. E daí? Por que não? Se eu tivesse filhos de 15 anos acharia sensacional a possibilidade de poder levá-lo a um programa que ele gosta em uma matinê no final de semana. E sossegado, pois ele estaria seguro, desfrutando de boa estrutura e comigo por perto caso algo acontecesse. Um bom par de fones de ouvido resolveria meu problema. Se bem que ontem, confesso, acho que não precisaria deles na maior perto do tempo.
Deixemos a sociologia de lado. O que me deixou “transtornado” foi perceber que alguém que eu desprezava artisticamente – Lucas, da Fresno – fosse um cara dono de um talento monstruoso. Tudo bem, nada que ele faz no Beeshop teria espaço no Fresno. Mas foi isso que me surpreendeu: ele passa a impressão de ser mais verdadeiro (com ele mesmo, principalmente) cantando em inglês e com uma sonoridade mais elaborada e rebuscada do que com a sua banda de origem. E a gurizada entra na onda. Não sei se pelo som ou apenas pelo cara. Muitas vezes, dá a impressão de que se ele estivesse fazendo rap a reação e os gritinhos do público seriam os mesmos. Desconfio que Lucas tem consciência disso. Chegou no patamar em que pode adotar qualquer estilo que terá público fiel para seguí-lo. Foi a impressão que a plateia de ontem, formada por cerca de 400 guris, deu a entender.
Voltemos duas horinhas no tempo, quando Bruno Negaum e Os Incomuns tocavam. Ou melhor, vamos voltar mais, para 2003. O local era o Dokas. A banda era a Blackhand. O evento era um daqueles festivais/roubada em que a banda é obrigada a vender ingresso e, na maior parte das vezes, só a família (às vezes nem ela) e uns poucos amigos vão conferir. Bruno tinha 15 anos. O RecifeRock! tinha poucos meses de vida, e estava procurando de todas as formas e em todos os lugares onde e o que estaria fazendo a nova geração roqueira do Recife. O show, obviamente, foi ruim. Eu, constrangido, relatei isso no site. O constrangimento vinha pelo fato de criticar duramente a banda de um colega de trabalho. Enfim, sete anos depois, parece que Negaum está se achando artisticamente. Tomou a providência mais importante de todas: recrutou uma boa banda. Deu um pontapé na fórmula emo para se aproximar do pop, sinal de maturidade. Tem carisma e sabe disso. O que falta? Experiência. Saber usar melhor a voz. Às vezes menos é mais. E Bruno parecia convencido do contrário ontem. Fez uma linkagem esperta entre “Balada do Louco”, dos Mutantes, e uma composição própria cujo tema era o mesmo: felicidade. O pecado foi ter tocado sozinho por três minutos enquanto a banda olhava para os lados e esperava a hora de entrar. Nada grave. No mais, Bruno se divide entre guitarra, teclado e vocais. E, assim como Lucas, dá sinais de que o emo começa a fazer parte do passado. A tal da transição.
O show seguinte foi da local Karma Seca. Vida de banda iniciante não é fácil. Geralmente, elas não têm composições próprias suficientes para manter um show de vinte minutos ou meia hora. Então acabam atirando nos covers mesmo: Paralamas, Legião, Raimundos, Pitty. Sobre o Raimundos, uma hipótese que levantarei aqui para futuras pesquisas: até me provem o contrário, “Mulher de Fases” (1999) é o marco zero do emo no Brasil. Enfim, há pouco para falar sobre o Karma Seca, já que tocaram poucas de própria safra..
E veio o Beeshop, cuja banda é formada por baixista e baterista da Terceira Edição e tecladista do Mamelungos. E ela é ótima. Esperto, aqui e ali Lucas arruma um jeito de colocar referências entre as canções, como foi com “Let it Be”. Artisticamente, tudo soa muito superior ao Fresno. É, finalmente, música de adultos para adultos. E, incrível – e muito bom de constatar – o público infanto-juvenil embarca na viagem geracional. Bem, gostem ou não, Lucas tem tudo para se tornar um dos maiores compositores de sua geração. Talvez o emo seja o trampolim para algo mais importante na vida. Se o estilo serve para criar compositores brilhantes no futuro, já está historicamente justificado. Os anos se encarregarão de dizer se é isso mesmo.
11 Comments
hehe sou da banda karma seca… é não sei se concordo muito com essa história de que mulher de fases é o marco zero do emo não xD…
e quanto as composições próprias foi falta de aviso :S no dia do show o produtor nos disse que deveríamos optar pelas musicas de nossa autoria :S
mesmo assim, o show foi bem bacana ^^
PS: se bem que pensei que o publico seria bem superior ao que vimos la :S
ABRAÇOS…
eu tambem nao sou muito chegado ao som EMO, mais o as musicas solos dele me agradaram, se nao me engano tem outro integrante do fresno que tambem tem um projeto paralelo bastante interessante, mais nao tenho certeca…. mas esse beshop e bem legal !!
Sonzinho fraco, água com açucar….!!! não presta pra nada!
VIRA HOMEM PORRA! SÓ DÁ VIADINHO NESSAS MERDAS!
É Hugo, nao sei se ao vivo o negocio é outro, mas depois que li a matéria fiquei curioso e fui ouvir o beeshop no myspace e achei bem mela cueca
O marco zero do EMO no Brasil é o LOS HERMANOS e todas as bandas que imitam eles tem um pé no EMO tbm, pode ver. Em Recife mesmo tem umas duas bandas que imitam descaradamente o LOS HERMANOS, nem preciso dizer quem são, preciso?
Uma ou duas? tem um monte cara, tudo cover de Los Hermanos!
As bandas chamadas “alternativas” nos seus mais variados “estilos”, pra não dizer, sem estilo aqui em PE são fraquíssimas ou muito ruins mesmo.
VOLVER é um bom exemplo disto, com seu público pseudo-intelectual, fazendo um sonzinho dos mais fracos e cantando sobre flores e arco-íris! Ainda assim, é super valorizada me dando cada vez mais certeza que o público que curte não entende nada de música e é super limitado em termos de cultura…
Tenho fé que um dia eu possa ser só um pouquinho surpreendida…. Quem sabe um dia… Tá dificil!!
karmaseca é uma das bandas que salvam a musica jovem pernambucana, tem nada de emo, raimundos n é emo é punk !
rock n roll
LOS HERMANOS MARCO ZERO DA MUSICA EMO?????????
SILENCIOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOo
meu deus q comentário desmerecivel e ignoravel
por favor, espero q vc more num andar alto para aproveitar e se jogar
pqpqpqpqpqpqpqppq
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
brinks, n concordo de forma alguma, mas opnião pe q nem cu, cada um tem o seu
kkkkkkk
povo provinciano, gôsto de provinciano, ignorancia total, marias vão com as outras, falta de referencias, ingenuidade, vamos combinar gente, isso aqui é uma merda total!
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