Festival DoSol 2010: O dia de Marky Ramone

Por Hugo Montarroyos em 8 de novembro de 2010

32 músicas tocadas em uma hora e vinte e nove minutos de show. Foi o tempo que Marky Ramone  levou para mudar o curso da história do rock potiguar. Porque, de agora em diante, o mercado musical de Natal se dividirá entre antes e depois da passagem de Marky Ramone pela cidade.

Para muitos parece heresia, mas para os milhares de fãs que acompanharam cada segundo deste momento histórico, a verdade é uma só: o Ramones é mais influente do que Beatles, Stones, Hendrix e Led Zeppelin juntos. Ok, esse pessoal praticamente criou e disseminou o que conhecemos até hoje como rock n’ roll. E aí apareceram quatro malucos de Nova York para dar um foda-se em toda essa cartilha estética-musical e criar um novo som desconstruindo – e, de certa forma, zombando, de toda essa geração.

Reinventaram. Desconstruíram e criaram algo revolucionariamente novo para os padrões dos anos 70, acelerando ao máximo o ritmo e trocando as franjinhas Beatles e o estilo hipponga afetado do Led pelas calças rasgadas. A contracultura da contracultura. Não é fácil criar algo estética e temporalmente tão à frente de seu tempo  depois de tudo o que esse sacrossanto pessoal citado acima criou.

E Marky Ramone, o Ringo Star punk, é prova cabal que o som do Ramones não envelhece nunca. Assim como o som do Zeppelin, Hendrix, Stones e…Beatles. Ou seja, estão, no mínimo, no mesmo patamar.

Todo esse blábláblá é para ilustrar a emoção de toda uma geração ao ver – e apenas ver! – Marky Ramone de perto. Mais Marks Ramones no mundo significaria menos Restarts no universo. Mas caras como Marky Ramone não nascem todo dia.

E olha que o segundo dia do DoSol não teve “apenas” Marky Ramone.  O dia contou também com ótimos shows do Conjunto Merda (ES), Desalma (puta orgulho dos meninos!) e Claustrofobia (SP).  Além deles, mais oito bandas se apresentaram no festival, mas perdi esses shows por diversos motivos – a saúde está ok! –

A primeira ótima surpresa para mim: o excelente trio Conjunto Merda, que segue a cartilha dos conterrâneos do Mukeka di Rato: uma barulheira dos infernos extremamente bem desenhada. Tanto que se permitiram uma versão super tosca para Quando você se separou de mim, de um certo Rei que perdeu a majestade para a religião. Sinceramente, não pareceu homenagem sincera. E é aí que está a graça. Com vocal berrado no melhor estilo Sandro e Bebê (Mukeka), o show foi deliciosamente insano e iconoclasta. Eles se dizem influenciados por Adoniran Barbosa e Nepalm Death.

E o pior é que faz todo sentido do mundo! O vocalista e guitarrista usa um modelo azul absolutamente estranho, uma espécie de versão pós-moderna da viola-guitarra usada por Ilson, do Zefirina Bomba. Perguntei onde ele havia comprado a guitarra. Resposta: “achei no lixo, no Japão”. Este é o Conjunto Merda. Eu conheceria se fosse você.

Tem certas coisas na vida que grana nenhuma no mundo paga. Uma delas é ver show tosco de um moleque guitarrista de 15 anos, no Dokas, em plenos 2003 (aqueles em que a banda paga pra tocar e nem a família vai ver) e, sete anos depois, ter o prazer de acompanhar este mesmo moleque fazendo, junto com outras duas figuraças, um metal extremamente original, diferente de tudo que está aí e num nível criativo que não deixa nada a desejar a nenhuma banda do mundo no estilo.

Quando Mathias (guitarra), Carneiro (bateria) e Igor (baixo e vocal) começaram o show do Desalma, Bacalhau, batera do Autoramas, comentou comigo “cara, soltaram o capeta!”. E a sensação era exatamente essa. Riffs e solos doentios saídos da guitarra de Mathias somados com uma bateria maravilhosamente espocada por Carneiro com voz do demo encarnado de Igor, que, entre uma música e outra, tem como passatempo espancar seu baixo.

Assim foi desde a abertura, com Carcaça, até o final destruidor com Fragmentos. E ainda têm a coragem e a ousadia de cantar em português. Há anos não via uma banda de metal tão promissora como o Desalma.  Será um vacilo enorme não escalar os caras para a edição 2011 do abril pro rock.

Vi pouca coisa do Claustrofobia, mas deu para perceber que foi no mesmo clima e pegada da ótima apresentação deles no Abril Pro Rock deste ano. Com destaque para a ótima versão que fizeram para a sempre atual Filho da Puta, do Ultraje a Rigor, que ganhou contornos de rockabilly em arranjo legitimamente trhash.

Engraçado que o cearense Facada acabou sendo prejudicado pela generosidade do festival. Se, a partir de hoje, a banda pode se orgulhar de ter aberto para Marky Ramone, tal honraria teve seu preço: muita gente deixou de ver o show da banda para garantir um bom lugar para testemunhar o show do Ramone. Foi o meu caso e o de muita gente. Diego Albuquerque, por favor, conte nos comentários como foi a apresentação deles.

Você percebe que está diante de um gênio quando nem um idiota do quilate de Michale Graves é capaz de estragar o show. E olha que o imbecil se esforçou pacas pra isso, deixando Joey Ramone certamente corado de vergonha onde quer que esteja. Em ato de generosidade extrema – mas extrema meeeeeesmo -, Marky Ramone voltou para o primeiro bis para anunciar o infeliz, que tocou e cantou ao violão umas cinco músicas que talvez façam parte do maior anticlímax da história da música universal. Absolutamente desnecessário e fora do lugar. Deu vontade de gritar – e acabei gritando mesmo – TOCA DJAVAN, SEU FILHO DA PUTA. Seria mais apropriado.

Mas gênio é gênio, e, sentado em sua bateria e gritando um cada vez mais rouco e cansado ONE-TWO-THREE-FOUR, Marky nos brindou com aquela batida que delineou toda uma corrente chamada punk, que teve no Ramones o seu grande expoente. O público, ensandecido, foi um show à parte, dando muito trabalho aos seguranças e jogando cestos de lixo para o ar como se fora bola de vôlei.

Foram 32 músicas. Todas indispensáveis. De qual outra banda você pode dizer o mesmo. Cada geração tem o John, Paul, George e Ringo que merece. A minha teve Joey, Johnny, Dee-Dee e Marky. E não troco este quarteto por nenhum outro na história da música. Para ficar com apenas uma das 32 joias punks tocadas, escolho I believe in miracles, dos versos I believe in a better world for me and you.

Pois Natal inteira saiu do show acreditando piamente nisso. E, do céu, o trio restante teria aprovado com um yeah! punk toda a celebração lindamente ensandecida promovida pelo público potiguar. It’s only punk rock, baby. MAS É FODA!

22 Comments

  1. Diego
    Posted 8 de novembro de 2010 at 10h50 | Permalink

    Mais um pouco de informação sobre o Merda viu? O Merda tem membros do Mukeka di Rato oras, claro que parece, claro que é a mesma cartilha.

  2. Posted 8 de novembro de 2010 at 10h51 | Permalink

    po, caras, parabéns pelo festival. bem organizado e as atrações estavam impecáveis. isso sem falar da tão esperada banda da noite, o marky ramone’s blitzkrieg. vai ficar pra sempre na minha memória, com muito carinho. quero muito agradecer a toda organização e aos patrocinadores por ter tornado a noite de ontem inesquecível para todos que estavam ali. beijos!

  3. Posted 8 de novembro de 2010 at 10h52 | Permalink

    Mas gênio é gênio, e, sentado em sua bateria e gritando um cada vez mais rouco e cansado ONE-TWO=THREE-FOUR,

    GRITANDO UM? COMO É ISSO? ELE GRITAVA : ” “UMMMMMM” ?

  4. Posted 8 de novembro de 2010 at 11h11 | Permalink

    Facada é a melhor banda de grind do nordeste, fez o melhor cd de grind que eu ouvi nesse ano, o joio é absurdo.

    Eu espero que todos morram como eles disseram, que a desgraça chegue em seus corações e que meus ouvidos voltem ao normal.

    Eu não sei se estava esvaziado o show deles nao, mas tava quente com o inferno, o capeta reinou no DoSol Rock bar no domingo.

    Show fudido demais!

  5. Daniel Medeiros
    Posted 8 de novembro de 2010 at 11h25 | Permalink

    Faltou uma resenha sobre o Garage Fuzz, hein? Um dos melhores shows da noite, sem duvida.

  6. Posted 8 de novembro de 2010 at 12h03 | Permalink

    Na verdade o Merda não faz “homenagem” ao Mukeka…se vc gosta tanto do Mukeka assim devia prestar atenção no baixista, que é o mesmo. Mozine, Laja Records.
    De resto, a matéria ta até legal.

  7. Posted 8 de novembro de 2010 at 12h08 | Permalink

    Broder, acho que vc anda mal informado sobre o graves e a generosidade do marky. Na hora do acustico ele faz isso pra o ramone lá tomar um ar. E ele é o melhor front man que poderia acompanhar e lever ramones, do jeito que ele levou.

    O tom da voz dele é perfeito. Só não mais perfeito que no misfits.

    Realmente quem deixa de ver o FACADA pra garantir um “lugar bom” deveria pensar melhor antes de escrever que o graves cagou o show. Com todo respeito, ficasse até o fim do facada e depois arranjasse o lugar bom no braço, como todo jornalista que se garante (tb sou jornalista e tb tava com câmera e fiquei a 1 hora e 28 minutos do show ali n pé do palco).

    Abraço.

  8. Posted 8 de novembro de 2010 at 13h34 | Permalink

    “Considero ele (Hugo Montarroyos) BLOGUEIRO formado em jornalismo, classe inferior.”

    Palavras de quem entende do assunto, hein. :)

  9. Posted 8 de novembro de 2010 at 15h10 | Permalink

    Comentario infeliz a respeito do Graves, desde que sabemos que o mesmo se garantiu muuuuito no front da banda! E em todos os shows que a BANDA Marky Ramones Blitzkrieg tem realizado pelo mundo, existe essa parada em que o graves sobe ao palco pra tocar unplugged, para que o Marky que ja é um senhor de idade, possa descançar, tocar aquela quantidade de musica uma atrás da outra no bom e velho ritmo do punk rock.

    Bem, mas vulgarmente vou lhe dizendo, gosto e opnião é que nem cu, cada um tem o seu.

    Só sei que foi lindo, escutar um pouco de misfits. Depois de um set list impecável de Ramones, escutar saturday night e scream unplugged foi de dar lombra! Sem esquecer de Dig Up Her bones com o Marky na batera (o cymbal mais rápido que já vi ao vivo… não tem jeito) HAHA! não tem preço!

    Seria querer demais o Glenn Danzig em nossas terras?

    I believe in a better world for me and you.

  10. Cesar
    Posted 8 de novembro de 2010 at 16h19 | Permalink

    Cara, concordo com você sobre o Graves.
    Esqueceu até a letra em alguns momentos (como em Pinhead). Estava, claramente, doido pra voltar pro hotel, disfarçando o tédio com sua dancinha desengonçada.
    Curto muito o Misfits original. Esse Misfits do Graves, curto menos, mas não é tão ruim quanto ele conseguindo desafinar cantando Ramones.

    Agora ruim mesmo foi o “momento Djavan”, um balde de água fria pra quem esperava ansioso por “Blitzkrieg Bop”

  11. César
    Posted 8 de novembro de 2010 at 16h32 | Permalink

    E quanto ao Merda e ao Facada, mais um pouco de informação não faz mal a jornalista algum, companheiro.

    O Facada é o grande nome do grindcore nacional atual. Elogiado por onde passa e aonde chegam seus dois álbuns gravados, o segundo deles mixado na suécia, “meca” do death metal mundial. Os integrantes já passaram por bandas de peso como Obskure e Clamus, que têm uma longa história no underground brasileiro. E EM 2003 NÃO TINHAM 15 ANOS PAGANDO PRA TOCAR NO DOKAS.

    Recifense é bairrista mesmo, fazer o que…

    Já o Merda, é apenas uma ponta no Iceberg das empeleitas do Mozine, cabeça da Laja Records, que ainda conta com o Mukeka di Rato, Os Pedreiro (ambas com ele na formação) e uma penca de boas bandas dos agregados. O “vocalista e guitarrista da viola-guitarra” é um dos caras mais prolíficos do undergound nacional, e me espanta você, “jornalista”, nunca ter ouvido falar dele.

    Uma dose de Google antes de escrever uma resenha nunca fez mal a ninguém…

  12. Posted 8 de novembro de 2010 at 20h41 | Permalink

    Caramba, Hugo, quanto exagero :P

  13. Posted 9 de novembro de 2010 at 8h49 | Permalink

    Quanto desrespeito! Não gostar tudo bem, gosto é uma questão muito pessoal. Mas partir para ofensas é lamentável.

  14. Daniel
    Posted 9 de novembro de 2010 at 9h08 | Permalink

    “o Ramones é mais influente do que Beatles, Stones, Hendrix e Led Zeppelin juntos.”

    parei por aí.

  15. Posted 9 de novembro de 2010 at 11h42 | Permalink

    Só pra dizer que não nos sentimos nenhum pouco prejudicados.

    Agradecemos a todos que estavam ali apenas para nos ver.

    @facadanagoela

  16. Posted 11 de novembro de 2010 at 14h02 | Permalink

    pena que nós pernambucanos estamos acostumados a perder grandes shows ultimamente tais como: bad religion,nofx, pennywise,exploited,jello biafra and guantanamo e marky ramone blitzkrieg.recentemente o recife esta ficando atrás desses estados com este tipo de show ,che ga de tanto death metal e trash metal eu gosto tambem mas estamos perdendo grandes apresentações dessas bandas aqui em recife!

  17. Posted 11 de novembro de 2010 at 15h51 | Permalink

    “a verdade é uma só: o Ramones é mais influente do que Beatles, Stones, Hendrix e Led Zeppelin juntos”
    olha, já vi dois shows do Ramones em toda minha vida e acho eles do caraleo mas, esta afirmação foi a coisa surreal que já li em minha vida.
    Só pode ser pra chamar atenção..
    como já falaram por aqui, parei ali mesmo.

  18. Posted 11 de novembro de 2010 at 16h19 | Permalink

    “o Ramones é mais influente do que Beatles, Stones, Hendrix e Led Zeppelin juntos.”

    caraca broder … qual foi o cogumelo que vc tomou chá!
    PUTZ…

  19. Perfect Stranger
    Posted 12 de novembro de 2010 at 23h47 | Permalink

    Ramone é mais influente que Beatles é uma grande piada mesmo! kkkkkkk

  20. Posted 13 de novembro de 2010 at 23h28 | Permalink

    porra Hugo! que cagada….
    cara acho que quem ta velho demais para ouvir punk rock é vc (e a cúpula do Recife Rock), pois desde o show do CJ vcs então vindo com essas críticas sem graça, todo mundo que foi sabia o que ia ver e até rolou surpresa, já que o trampo acústico do Graves é SOLO.

    ta na hora de mudar o nome do site!

  21. Posted 14 de novembro de 2010 at 0h09 | Permalink

    O blog é dele e ele fala as merdas que quiser, mas acho que tudo tem limite.
    O Ramones não lambe as botas de Hendrix, Beatles, Stones…
    Se essa idolatria viesse de um cara de 15/16/17 anos, vá lá.
    Mas de um macaco veio feito tu, Hugo. É de dá pena.

    PS: Por isso esse cara – Mark Ramone – não sai daqui. É muito trouxa junto.
    No quarto do hotel ele deve morrer de rir.

  22. Fabio Souza
    Posted 16 de novembro de 2010 at 14h46 | Permalink

    O Show do marky foi muito melhor que o dele com tequila e do cj aqui em recife, ambiente público, local tudo quase perfeito, exceto a roda de pogo que não existe igual a nossa

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