Tapa na Orelha: Deixe-se Acreditar na Luta Pacifista

Por Hugo Montarroyos em 27 de novembro de 2010

Resolvi puxar o texto sobre o Red Bull Soundclash para a coluna porque acho que o evento de ontem merece uma reflexão um pouco mais “aprofundada” do que uma cobertura comum. Porque ontem Mombojó e Devotos provaram uma coisa que parece óbvia, mas que, por mais óbvia que pareça, insistimos em ignorar: no frigir dos ovos, é tudo música. Seja pagode, samba, afoxé, hardcore, jazz, frevo. Os bons músicos não pensam em segmentação. Ouvem de tudo e assimilam o que acham essencial para adaptar ao seu estilo. Devotos e Mombojó mostraram que não são assim tão diferentes. Exemplos? Vamos lá: Aquele refrão gritado de “Deixe-se Acreditar” e a barulheira em que se transforma “A Missa” em seu final são o lado Devotos do Mombojó. E o reggaezinho de “Nosso Ninho”, que se transforma em hardcore e volta para o reggae para finalizar novamente com peso parece “a fórmula” do Mombojó: fazer, de uma música, muitas.

Não dá para deixar passar batido um show que termina com os integrantes do Mombojó descendo do palo para se juntar ao público numa roda de pogo do Devotos. “É uma honra tocar com uma banda que a gente cresceu ouvindo e vendo os shows”, dizia Felipe S. “O Mombojó merece tudo que vem conquistando. E não digo isso da boca pra fora”, afirmava Cannibal. E dava pra sentir que não era média deles. Havia respeito mútuo e admiração. De duas bandas que não têm nada a ver. Será que não?

Não me sai da cabeça uma frase do Lobão, querendo ser legitimado como brasileiro tanto quanto, chutemos, vá lá, Caetano Veloso. Dizia o Velho Lobo. “Eu não sou banqueiro; sou músico. Não sou erudito; sou popular. E não sou estrangeiro. Logo, o que faço é música popular brasileira”. Pois é o mesmo caso de Devotos e Mombojó: ambos fazem, acima de tudo, música pernambucana. E este é o grande barato e diferencial que nós temos: Coco Raízes de Arcoverde e Hanagorik. Silvério Pessoa e Desalma. Lenine e Matalanamão. Se prestar atenção, todos têm sotaque pernambucano.

Outra coisa legal: a julgar pelo senso-comum, Andreas Kisser estaria no palco com o Devotos. E Lirinha, com o Mombojó. Aconteceu o contrário.

O que achei mais bonito ontem foi a possibilidade de não haver competição dentro de uma competição. Embora estivesse claro que estavam presentes públicos distintos, em nenhum momento nenhuma banda foi hostilizada. Ao contrário, havia uma atenção demasiada para saber como a banda se viraria em cada desafio, em como Cannibal soaria cantando samba e Felipe S. se arriscando no hardcore. Óbvio que houve tropeços. E a graça está aí. Eis o grande apelo do evento.

Para os mais velhos, como eu, é muito bacana ver duas gerações distintas  se reconhecerem de forma tão carinhosa. E, por uma noite, se transformarem em uma banda só.

Ontem, na Nox, todos foram vencedores. Mas, disparado, o maior de todos foi o público.

No fim das contas, o importante é perceber que as diferenças não são tão diferentes como a gente imagina..

8 Comments

  1. Posted 27 de novembro de 2010 at 13h23 | Permalink

    Parabéns pela matéria Hugo.
    Pernambuco é o mundo e o mundo está em Pernambuco.

  2. Crika
    Posted 27 de novembro de 2010 at 14h46 | Permalink

    Muito bom Hugao! Assistir o Devotos tocando samba não tem preço! Valeu Coq Molotov pela organização!

  3. Jonas
    Posted 28 de novembro de 2010 at 22h16 | Permalink

    A luta pacifista é uma coisa muito legal e talvez nela resida a nossa ida em direção a um mundo melhor, mais justo e fraterno.
    Que outros encontros como esse sejam consolidados para que tenhamos definitivamente o espírito da amizade gravado no peito e peitinhos de todas as bandas, provando ao mundo o quanto somos brothers em um meio de tanta concorrência selvagem.
    Não tem como não se emocionar vendo nossos artistas se abraçando, se beijando, é tudo tão maravilhoso que eu não sei como expressar minha emotividade.
    Pernambuco está no mundo, o mundo está em Pernambuco!

  4. Olívia
    Posted 29 de novembro de 2010 at 12h57 | Permalink

    Realmente o show foi muito bom! Parabéns a todos.

  5. Raphiro
    Posted 1 de dezembro de 2010 at 1h46 | Permalink

    gostei muito mesmo do evento, e esse texto me fez analisar outras coisas e gostar ainda mais.

  6. jose brasileiro
    Posted 3 de dezembro de 2010 at 16h48 | Permalink

    gostaria muito de ter ido nesse show, fiquei depedendo de minha namorada que nao queiz ir pro show, e de ultima hora nao foi nem pra minha casa !!!, so restou mi lamentar pela perda, e as latinhas pra curar a amargura !!

  7. não é meu nem teu
    Posted 13 de dezembro de 2010 at 16h12 | Permalink

    Porque todos querem a secretaria de turismo!
    No blog Acerto de Contas!
    http://acertodecontas.blog.br/

  8. Enzo Fernando
    Posted 18 de dezembro de 2010 at 13h32 | Permalink

    Além dos shows serem fodas o ingresso também foi de graça a 10 reais a meia entrada para ver Devotos e Mombojó numa estrutura como a nox o evento está de parabéns eu colocaria outras bandas para acontecer isso já que temos bandas boas que não ficam de fora da cena de nenhum lugar .

One Trackback

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