Das dezenas de novas cantoras surgidas nos últimos anos no Brasil, Karina Buhr é, de longe, a mais talentosa e criativa delas. E por um motivo muito simples: Karina não é cantora de ofício. Não possui vozeirão, vícios e maneirismos que tanto irritam nas novas candidatas a herdeira de Elis Regina. Como sua voz cabe numa caixa de fósforos – e ela sabe disso -, Karina lança mão de outros recursos. E, os mais valiosos deles são a mão certeira nas composições e uma despretensão que deveria servir de ensinamento para muita menininha que se acha a nova Marisa Monte de sua geração.
Como Karina admite na genial “Ciranda do Incentivo”, ela só sabe tocar seu tamborzinho e olhe lá. Karina Buhr é velha conhecida de quem, como o autor dessas linhas, frequenta a cena pernambucana desde o início dos anos 90, tempos em que ela roubava olhares e suspiros dos marmanjos no público dos shows do Eddie. De lá, embarcou numa corajosa carreira com o Comadre Fulôzinha, talvez a menos comercial das bandas já surgidas em Pernambuco. Depois, São Paulo, Teatro Oficina. E a maturação de um disco que cansou de esperar por fundos de incentivo à cultura e foi lançado do próprio bolso. Em outras palavras, punk. Não tem quem lance, eu mesmo lanço! E assim foi.
Demorei a resolver escrever sobre este disco. Primeiro, por burramente me prender ao “rock” que adorna o nome deste site. Segundo, porque achava que, depois da Ilustrada, da Folha de São Paulo, dar merecida capa ao álbum no início do ano, não haver mais nada de relevante a dizer sobre “Eu Menti Pra Você”. Em ambos os casos, estava enganado.
Produzido por Karina, Bruno Buarque, Mau e Duda Vieira, o disco prova, em 13 faixas, que é possível fazer música original, descolada, criativa e antenada sem precisar lançar mão de produções glamourosas, exageros, afetações e quetais. E, claro, a guitarra de Fernando Catatau em algumas músicas só ajuda. De “Eu Menti Pra Você” até o final com “Plástico Bolha”, a palavra de ordem é uma só: inteligência, artefato cada vez mais rareado na cada vez mais combalida indústria cultural.
Karina Buhr corre por fora. Quem mais teria coragem de fazer “Ciranda do Incentivo”? Um funk em que desdenha do próprio talento e dá um verdadeiro tapa na cara das comissões julgadoras de trabalhos artísticos contemplados pela “generosidade” do governo. “Tá tudo padronizado no nosso coração / nosso jeito de amar, pelo jeito, não é nosso não”, canta em “Mira Ira”. Atenção, nova cantora: você não conseguirá produzir verso tão certeiro da noite pro dia. Isso exige vivência, leitura, trabalho, carreira. E Karina já dispõe de tudo isso há um bom tempo.
2010 foi repleto de bons lançamentos. Na música pernambucana, então, nem se fala. Pois o melhor deles, para este escriba, é “Eu Menti pra Você”. E, pode acreditar, não é mentira dele.
Cotação – ótimo
4 Comments
achei chinfrin!!
ainda tem gente que acredita em mais essa mentirinha musical?
donnez-moi la patience
c’est de la musique
putain enfer
Por que pernambucano tem essa mania de grandeza??
Afff!
Tudo dele é o melhor do mundo…
Karina é legal, mas não é a mais talentosa da nova geração.
Fora a megalomania de pernambucano, o cd dela é realmente MUITO BOM!!
Recomendadíssimo!
2 Trackbacks
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[…] “2010 foi repleto de bons lançamentos. Na música pernambucana, então, nem se fala. Pois o melhor deles, para este escriba, é “Eu Menti pra Você”. E, pode acreditar, não é mentira dele.” (Hugo Montarroyos, RecifeRock). Leia a resenha completa! […]