Desde que surgiu, no início da década passada, Johnny Hooker dividiu opiniões. Os detratores trataram logo de apontar sua voz “gasguita”, sua ansiedade louca em imitar David Bowie e a então “precariedade” de sua banda. De minha parte, sempre achei bacana, ainda mais para um moleque mal saído dos 15 anos. Enxergava, como ainda enxergo, talento bruto a ser lapidado.
Pois bem, Johnny está quase lá. Apesar de muito novo, já é um artista amadurecido pelo tempo. Ainda peca e escorrega aqui e ali, mas seus acertos são infinitamente superiores aos erros. E conheço poucos caras tão bons de palco como ele.
A Candeias Rock City, sua atual banda, faz um rock vigoroso, gostoso de ouvir, extremamente bem executado. Bruno Freire (guitarra), André Soares (baixo), Nil Agra (bateria) e Paulista (guitarra) possuem a sintonia de quem já toca juntos há algum tempo.
O projeto Terça Autoral, do UK, é tremendamente benvindo. Algumas coisas podem ser corrigidas. Exemplo: essa história de ladies free é o fim da picada. Obriga a garota a chegar no recinto antes das 22h, e esperar pelo show começar por volta da meia-noite. O que fazer até lá? Consumir, claro. Sem contar que quatro reais numa garrafinha de água mineral com gás e 15 conto na porção de batata frita é um senhor assalto. Mas aí não é só UK, mas todas as boates do mundo que são félas da mãe o suficiente para esse tipo de roubo. Paga quem quer…
E, para uma terça-feira à noite, um belo público compareceu para o show do Candeias Rock City. Alguns desavisados me perguntavam: “qual é a da banda? É autoral?”. E aí entra Johnny Hooker, sobretudo preto gay, óculos escuros, provocação da cabeça aos pés.
Aos acertos: a banda é extremamente afiada, e acerta no alvo quando investe em guitarras distorcidas e toda a farofaria que o bom e velho hard rock proporciona. As escorregadas vem nos momentos em que a banda adota o estilo “brega-cult”, casos de “Volta” e “Amor Marginal”, que destoam do resto do repertório e criam uma baita anticlímax.
Mas quem teria a manha de tascar um cover da hiper cafona Beyoncé – “Crazy in Love” – pouco depois de um cover de Caetano – “Nine out for Ten”, do obrigatório álbum “Transa””, que, na introdução, traz citação de “Bom Senso”, da fase Racional de Tim Maia? Devastador.
Entre as de próprio punho, destaques para a genial “Um Dia Eu Morro de Rock”, o convite para fumar unzinho – segundo a banda – “Let’s Get High”” e “Fire”, responsável por fazer história como os primeiros peitinhos da história do Abril pro Rock.
Johnny vem colhendo os frutos de uma carreira plantada desde muito cedo. Tocará, inclusive, no Festival de Verão de Salvador. No mesmo dia de Ivete Sangalo. Tomara que tenha mais sorte que o Volver, que no super picareta Festival de Verão do Recife tocou na mesma hora da baiana.
Você pode detestar, mas a verdade é que johnny Hooker é um artista. Em todos os significados que a palavra carrega. Para o bem e para o mal. Amém.
4 Comments
o cantor dessa banda é um dos poucos artistas de valor que orbitam na cidade, sem ser sócio da Fundarpe ou similar, canta bem, tem voz, presença de palco, atitude e boas composições. Um artista sério, com essência. Chega de tanto picareta de plantão tirando onda de artista, ninguem aguenta mais!
Hugo..
Voce gostou mesmo da minha escrita!
Exato.
Candeias é o pipoco nessa porra! LOLOLOLOLOLOLOL
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