Entrevista – Volver

Por Hugo Montarroyos em 12 de abril de 2013

Volver divulgação

Talvez a única banda pernambucana de sua geração a conseguir completar dez anos de carreira, a Volver é uma das atrações do Abril Pro Rock 2013, onde faz show no dia 19. Por e-mail, Bruno Souto, vocalista, guitarrista e principal compositor da banda, faz um balanço dos dez anos de carreira, critica as políticas culturais de Pernambuco e diz como será a apresentação no Abril pro Rock

“De Canções Perdidas Num canto Qualquer” (2004) até “Próxima Estação” (2012), o que mudou na Volver?

Muita coisa, né? Primeiro que cada um dos três discos da banda foi gravado por formações diferentes e cada músico que passou pela banda deixou sua marca. Pra mim, o resultado disso é uma discografia da qual me orgulho muito. Cada disco, de alguma maneira, reflete o que aquele conjunto de pessoas era naquele momento.
Tudo começou com deslumbramento (até porque sempre foi um sonho meu ter uma banda), depois caiu a ficha da “realidade” (muitas bandas acabam aí) e continuo porque fazer música e estar num palco é uma necessidade.

A banda optou, já há alguns anos, em morar em São Paulo. Fez alguma diferença? A banda ganhou mais visibilidade com isso?

Antes de qualquer coisa, a banda se mudou pra São Paulo para, além da busca de uma maior visibilidade, para se sentir numa evolução. A gente sentia que estava “andando em círculos” estando no Recife. Queríamos vivenciar essa experiência de mudança, estar num lugar diferente e levando Recife na bagagem. E claro que valeu a pena. O próprio disco “Próxima Estação” foi um fruto direto dessa experiência, por exemplo.

Tive o privilégio de ser uma das primeiras pessoas a ouvir “Próxima Estação”, bem antes de seu lançamento. O disco contrasta momentos de absoluta descontração com outros de uma certa melancolia. Você acha que isso é sinal de amadurecimento como compositor?

Também. A troca de músicos e suas respectivas “bagagens” também contribuíram para o resultado final. Se até agora existiu uma fórmula na música da Volver, nela sempre esteve a melancolia e o bom humor.

“Mallu” e “Mangue Beatle” são canções um tanto “polêmicas”. Chegou a ter problemas por causa delas? Alguém chegou a ficar incomodado com versos como “Eu não consigo viver
nessa lama com vocês”?

Problema algum. Algumas críticas, sim. O que era perfeitamente normal, né? Nós pernambucanos temos uma leve queda por uma boa polêmica. Tá no sangue. (risos).  Até porque se eu não aceitasse críticas, não estaria fazendo música e dando a cara a tapa. Pra quem não entendeu tais versos, por exemplo (que, diga-se de passagem, foi a minoria), paciência. Não posso ensinar ninguém a entender contextos nem a ter senso de humor. Pra mim, tais músicas são, acima de tudo, divertidas.

Como será o show do Abril pro Rock? Será um apanhado de toda a carreira ou mais centrado em “A Próxima Estação”.

Tentaremos apresentar um apanhado, mas não sei se vai rolar fazer muita coisa. Até porque show de festival tem um tempo curto. E outra, além de ser o disco mais recente, é o segundo show do “Próxima Estação” no em Recife . É natural que queiramos tocar esse repertório, mas tentaremos dosar da melhor maneira possível.

 A Volver conseguiu chegar aos dez de carreira. Da geração de vocês, poucas bandas pernambucanas sobreviveram. Você encontra alguma explicação para isso?

Das bandas pernambucanas que não possuíam elementos regionais, surgidas em 2003, 2004, a Volver talvez seja a única que continua na ativa e sem pausas. Não sei se existe outra. Uma pena, pois aquela geração tinha muito potencial. Bandas muito talentosas…
E  se for parar pra pensar nesses dez anos de Volver, isso é um feito e tanto! Se não for inédito. Deixa eu pensar… Uma banda sem elementos regionais e sem mistura de estilos, surgida no Recife, que durou dez anos? Eu desconheço. Por favor, me diga se eu estiver equivocado.
Como explicar isso? Tesão.

A banda cativou um público realmente grande em seus shows no Recife. Por que acha que a Volver não conseguiu chegar ainda mais longe?

Realmente não sei te responder. E pra falar a verdade isso não me preocupa. Me preocuparia se estivesse compondo e lançando discos pra atingir públicos “x” ou “y”. Claro que quero que o maior número de pessoas possível escute a banda e minhas músicas, mas não vou mudar uma nota ou palavra sequer para que isso aconteça. Se conquistamos ou emocionamos, nesses dez anos, um número “x” de pessoas, foi através de canções que foram feitas e lançadas exatamente como queríamos. Sendo honestos com nós mesmos. E toda banda deveria pensar assim: primeiro se satisfaça. As pessoas gostarem ou não, é consequência.

A volver já consegue viver apenas de música?
Não. Eu consigo “sobreviver”, o que é um pouco diferente (risos).

Nesses dez anos de carreira, qual foi o melhor e o pior momento da banda?

Não conseguiria te responder isso. Foram tantos momentos inesquecíveis e outros nem tanto… Mas, para o bem e para o mal, foram experiências, e como tal, ajudaram a moldar o que a banda é hoje.

“A Próxima Estação” foi muito bem recebido pela crítica. Tem noção de quantas cópias do álbum foram vendidas?

De Cds, não tenho esses números exatos. De streamings e downloads deve ser um bom número, pois na plataforma oficial (que é o “Álbum Virtual” da Trama, onde o disco foi lançado e está disponível), o “Próxima Estação” é o quarto mais acessado e/ou baixado, à frente de nomes como Ed Motta, Nação Zumbi, Elis Regina, etc. (mesmo tendo sido lançado depois deles) Isso deve ser um bom indicativo. Fora os downloads em outros sites que não o da Trama.

A banda tem alguma mágoa com Recife? Há problemas de relacionamento com outros artistas locais por conta de divergências estéticas?

Mágoa de Recife? De forma nenhuma! Mas claro que sempre queremos o melhor pra nossa cidade, né? E é triste ver tanto potencial artístico e, por que não, comercial, praticamente engessado. Muito por culpa de políticas culturais viciadas, arcaicas e centradas no próprio umbigo.
E problemas por divergências estéticas com outros artistas, não tenho. Acho que a diversidade é necessária. Afinal, Recife é isso, né? Mesmo que uns não enxerguem nem realmente valorizem isso.

Se quiser acrescentar algo, o espaço é seu!

Espero que o site RecifeRock! volte com força total. Será um aliado importante (como já foi) pra cena musical e novos artistas de Pernambuco.

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