Tapa na Orelha: Dez anos de RecifeRock! (ou a volta dos que não foram)

Por Hugo Montarroyos em 13 de abril de 2013

Galpão do Rock

 

E nessa brincadeira (que sempre levamos muito a sério) já se passaram dez anos. Começamos em 2003, muito em função da falta de referência de rock local na mídia pernambucana. Tínhamos acesso e informação sobre bandas filandesas e escandinavas na internet, mas não sabíamos o que acontecia na nossa própria cidade. Então resolvemos fazer um verdadeiro trabalho de formiguinha. Cobrir desde os shows de cunho mais underground no finado Dokas (aqueles em que as bandas, de tão iniciantes e desconhecidas, precisavam pagar para tocar) até os eventos mais tradicionais, como Abril pro Rock, Rec Beat e afins.

A ideia era  subverter as  prioridades. Nos pautávamos por Recife. Strokes e Madonna, por exemplo, só seriam temas de matéria no site se fizessem shows na capital pernambucana. Ou se alguma banda daqui abrisse os shows deles. Isso, na época, foi o grande diferencial do RecifeRock!. Estamos falando de um tempo pré-Orkut. Uma época em que o Facebook não existia para os brasileiros e a mídia impressa ainda se acostumava com a transição para o mundo digital/ virtual.

E tivemos muita sorte. Nascemos no momento em que surgia uma geração muito interessante de bandas: Mombojó, Vamoz!, Astronautas, Rádio de Outono, Volver e tantas outras. E numa época em que os veteranos Nação Zumbi, Mundo LivreS/A, Devotos (e tantos outros) viviam fases de transição em suas carreiras. Os eventos locais, na medida em que cresciam (o Abril pro Rock chegava à sua décima edição; o Rec Beat se mudava de mala e cuia da acanhada Rua da Moeda para o Paço Alfândega; nascia o festival No Ar: Coquetel Molotov), abriam espaço em suas grades para as bandas novas.

Ou seja, estávamos na hora e local certos. E, para nosso espanto, começamos a servir de fonte para a grande mídia, que não dava a menor pelota para o rock local. Mérito nosso? De forma alguma. Mas, sobretudo, da talentosa geração que surgia. Servíamos apenas de ponte, fato que já nos deixava bastante satisfeitos.

Nesses dez anos, como tudo na vida, tivemos altos e baixos. Em nosso melhor período, entre 2005 e 2006, chegamos a ter um “pequeno império midiático”. O site se desdobrou em revista, programa de rádio e televisão, onde tínhamos um quadro semanal no extinto e saudoso Sopa Diário, da TV Universitária. Em compensação, houve épocas em que demorávamos semanas para atualizar o site. A demanda e o trabalho eram enormes. E  a mão-de-obra, escassa. Fora a força de alguns colaboradores (aos quais somos gratos até hoje), na maior parte desses dez anos o RecifeRock! foi tocado por apenas três pessoas: Guilherme Moura, Bruno Negaum e este que vos tecla.

Profissionalmente, o RecifeRock! foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Um espaço que me dava total liberdade (e muitas vezes abusei dela) de escrever o que desse na telha. Que me permitiu publicar um livro e me rendeu um monte de “frilas” para uma série de revistas especializadas.

Hoje, graças aos céus, não somos os únicos a acompanhar a cena roqueira local. Ainda que o espaço continue pequeno, os jornais, rádios e TVs também cobrem, à sua maneira, o que rola no underground pernambucano. Outros sites, blogs  e revistas foram surgindo ao longo dos anos. Ainda que as rádios continuem com sua vergonhosa e jabazeira programação que todos nós conhecemos, alguns guerreiros solitários tentam cavar espaços para a cena local. E, tenho fé, um dia teremos uma rádio que se dedique exclusivamente aos artistas locais, muitos deles reconhecidos e premiados no exterior, mas absolutamente desconhecidos em sua terra.

Esta coluna é, entre outras coisas, uma forma de fazer um pequeno balanço dos dez anos de estrada do RecifeRock!. E, também, uma espécie de tratado. Ainda que de forma muito menor e acanhada, voltamos. Eu, particularmente, voltei de onde jamais deveria ter saído. Sei que muita gente ficará feliz com nosso retorno. E que outros (igualmente numerosos) torcerão o nariz. Mas, para mim, o mais importante é que estou feliz em voltar. Devagar e aos poucos. Um passo de cada vez, como foi no começo.

Shows voltarão a ter cobertura. Entrevistas e resenhas de discos serão feitas. O objetivo (pelo menos o meu) é que o RecifeRock! se transforme num noticiário diário sobre tudo o que é produzido no universo roqueiro local. Se isso de fato vai acontecer ou não, só o tempo dirá. O mais importante (sempre) é que estamos vivos. Custei a aprender  isso. E, agora que aprendi, não pretendo mais largar o osso. O RecifeRock! está de volta. Assim seja!

2 Comments

  1. Betto Skin
    Posted 16 de abril de 2013 at 8h38 | Permalink

    Fico feliz, de verdade, com a volta do site. É importante para a cena musical independente, um veículo que leva à tona tudo que acontece de interessante no underground pernambucano.
    Foi através dele que conheci bandas legais através dos downloads disponíveis. Ficava ansioso pra ver qual novidade era postada. Qual banda eu iria conhecer. Isso era foda!!!
    Tenho mais de 30 cdr’s gravados só com o que baixava!!!

    Longa vida ao site!!!!

  2. Posted 10 de maio de 2013 at 13h36 | Permalink

    Meu caro Hugo!

    É bom saber que voce volta a comandar o RR !
    Polemicas passadas a parte, espero que o RR cumpra sua missao,dentre tantas, que é vitalizar a cena local !
    Abraço!

%d blogueiros gostam disto: