Não espere qualquer traço de regionalismo no Diablo Motor. Trata-se de uma banda de rock. E isso, no caso deles, está longe de ser uma generalização simplista. Seu homônimo trabalho de estreia vem maturado por cerca de cinco anos de experiência em pequenos e grandes palcos. Diablo Motor, o disco, consegue transpôr para o estúdio toda a pegada e energia da banda em seus shows. É rock com gosto de cerveja gelada, fumaça de cigarro, contravenção e hedonismo. E guitarras. Muitas. Além de um grande achado, o ótimo vocalista Rafael Sales, que, com sua voz rasgada, consegue emprestar personalidade marcante em cada uma das dez faixas que compõem o álbum.
Em termos de sonoridade, o Diablo Motor está vários passos à frente do hard rock farofa que costuma assolar bandas que trafegam neste estilo, e flertam diversas vezes com o que se costumou chamar de stoner rock. Consegue soar pesado e ao mesmo tempo limpo e bem produzido, sem que essa “limpeza” represente qualquer demérito. Estamos falando de qualidade sonora mesmo. O peso está sempre ali, no lugar e hora certos, marcando o ritmo, dialogando com cada riff, com cada solo de guitarra, com o baixo e bateria precisos que parecem formar um “todo” só, único.
As temáticas? Ressacas, mulheres, como evitar o próximo gole. O Diablo Motor parece a encarnação perfeita dos versos iniciais de “Cafa Song”: “Sempre fui ruim, nunca fui bom / E Hoje estou muito pior”. Já na abertura, com “Sem Moderação”, somos apresentados ao universo da banda: uma ressaca infernal embalada por um rock certeiro de tirar o fôlego. Aos poucos eles tiram o pé do acelerador para, em seguida, cravar o pé novamente. As participações especiais são um tiro mais que certeiro. O andrógino Johnny Hooker canta (e muito!) em “Silly Little Game”, única música em inglês do disco. Djalma Rodrigues, do AMP, empenha sua guitarra envenenada em “A Mesma História”. Tudo é tão bem produzido que dá até para perdoar letras como “Mas quando eu me sinto meio blue / O bom e velho rock n’ roll deixa tudo azul”. Pior é que, no caso deles, a frase torna-se absolutamente verdadeira.
Com produção assinada pela própria banda e co-produção à cargo do experiente gaúcho Iuri Freiberger, Diablo Motor é rock cabeludo, de óculos escuros, barba por fazer, calças rasgadas. Um amontoado de clichês visto pela superfície. E muito mais do que isso quando entendido em toda sua profundidade roqueira. Destaque também para o ótimo trabalho gráfico, com direito a encarte caprichado. Não à toa, o disco fecha com uma faixa intitulada “Não Pare”. E é essa a sensação que permeia todo o álbum.
Cotação – bom
One Trackback
Disco dessa vez resenhado por Hugo Montarroyos do site RecifeRock!
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