Tapa na Orelha – A décima dose de Coquetel Molotov

Por Hugo Montarroyos em 12 de setembro de 2013

Teenage Fanclub em sua primeira turnê brasileira, em 2004

Teenage Fanclub em sua primeira turnê brasileira, em 2004

 

Foi na noite do primeiro dia de maio de 2004. O Parafusa, uma das bandas pernambucanas em ascensão na época, começou a contar o primeiro capítulo dos dez anos de história do Festival “No Ar: Coquetel Molotov”. No epílogo, ninguém menos que o Teenage Fanclub, minha banda preferida de todos os tempos e praticamente um desconhecido por aqui. Na época, produzi o texto mais “cafonamente” sincero da minha vida. Para mim, era inacreditável que Recife fosse o primeiro solo brasileiro a ser pisado pelo Teenage Fanclub. Outras dúvidas me perseguiriam desde então.

Será que um festival de rock realizado dentro de um teatro pegaria aqui no Recife? Um evento que primava por trazer grande número de bandas desconhecidas em sua programação conseguiria atrair público? Para minha grata surpresa, o festival cresceu ano a ano. E conquistou um público fiel. E criou a agradável cultura de ver bons shows de rock no conforto de um teatro.

Em 2005, quando lançamos a revista do RecifeRock!, fiz uma pequena entrevista com Jarmeson de Lima, um dos produtores do festival. Na época, ele explicava qual era a proposta do evento: “Queremos dar ao público de Recife a chance de conhecer bandas que gostamos e que são pouco conhecidas por aqui”. Bingo!

O festival ganhou um espaço gratuito (a sala Cine PE) para a apresentação das revelações locais, uma espécie de evento dentro do evento. No palco principal, as bandas pernambucanas mais importantes daquela geração ajudaram a consolidar o Coquetel Molotov como mais uma grande vitrine de Pernambuco, junto com o Abril pro Rock e Rec-Beat. Tocaram por lá Parafusa, Mellotrons, Rádio de Outono, Volver, Vamoz! e tantas outras que definiram o som de Recife naquele período.

Em dois anos, o No Ar: Coquetel Molotov virou grande. Conseguiu formar público e atrair imprensa especializada de todo o país e até de fora dele. Cresceu tanto que ganhou ramificações, com atividades paralelas que aconteciam durante todo o mês em que o festival era realizado: Mostra de filmes, shows gratuitos no Teatro Apolo e no Pátio de São Pedro, debates e oficinas serviam de aquecimento para as noites principais.

Em 2009 já era tão grande que precisou ser realizado no Teatro do Centro de Convenções de Pernambuco, bem maior que o Teatro da UFPE. Naquele ano, Milton Nascimento e Beirut esgotaram os ingressos para as duas noites de shows.

Tortoise, Dinosaur Jr, Mallu Magalhães e Marcelo Camelo (que começaram ali, no palco, na frente de todo mundo, a dar sinais de que sua parceria caminharia para além das composições musicais), Lobão, Racionais Mc’s. Tudo isso permeado por um monte de bandas suecas (e francesas) que ninguém, além dos produtores do Coquetel Molotov, conhecia. Estava consagrada, assim, a fórmula de uma história de sucesso que já dura dez edições.

Que começou com amigos de faculdade que criaram um programa de rádio para tocar as bandas que gostavam. E, num segundo passo, trazer essas mesmas bandas para se apresentar no Recife. Algo ousado. Que, na época, soava tão estranho (você, mais novo, não imagina como era o Recife no início da década passada) que parecia impossível de dar certo.

Costumo dizer que é preciso ser muito corajoso para ser produtor cultural no Recife, cidade tão afeita aos modismos e extremamente bipolar em relação aos shows: ou a oferta é grande demais ou eles desaparecem do mapa, dependendo da época. Imagine, então, a coragem necessária para criar algo com o perfil do “No Ar: Coquetel Molotov”.

Para mim, por motivos mais do que pessoais, um festival que começou sua trajetória trazendo o Teenage Fanclub não poderia dar errado.

Este ano nos encontraremos novamente no Teatro da UFPE, nos dias 18 e 19 de outubro, com os já confirmados Rodrigo Amarante, Meta Metá (SP) e Karol Conká (PR). Junto com um punhado de gente que eu provavelmente nunca ouvi falar. Afinal, estamos falando do Coquetel Molotov. Que, sempre devo lembrar, começou com minha banda preferida. E que era praticamente desconhecida por aqui…

 

 

 

 

 

 

2 Comments

  1. Posted 16 de setembro de 2013 at 17h30 | Permalink

    Uma pena que até agora, as atrações estejam uma porcaria!

  2. Posted 15 de outubro de 2013 at 18h04 | Permalink

    Olá,
    muito bom saber que tem um blog especializado no cenario rock de Recife! Parabéns!
    Anselmo
    minervapop.com

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