Resenha – Diablo Motor

Por Hugo Montarroyos em 28 de agosto de 2013

Motor2

Não espere qualquer traço de regionalismo no Diablo Motor. Trata-se de uma banda de rock. E isso, no caso deles, está longe de ser uma generalização simplista. Seu homônimo trabalho de estreia vem maturado por cerca de cinco anos de experiência em pequenos e grandes palcos. Diablo Motor, o disco, consegue transpôr para o estúdio toda a pegada e energia da banda em seus shows. É rock com gosto de cerveja gelada, fumaça de cigarro, contravenção e hedonismo. E guitarras. Muitas. Além de um grande achado, o ótimo vocalista Rafael Sales, que, com sua voz rasgada, consegue emprestar personalidade marcante em cada uma das dez faixas que compõem o álbum.

Em termos de sonoridade, o Diablo Motor está vários passos à frente do hard rock farofa que costuma assolar bandas que trafegam neste estilo, e flertam diversas vezes com o que se costumou chamar de stoner rock. Consegue soar pesado e ao mesmo tempo limpo e bem produzido, sem que essa “limpeza” represente qualquer demérito. Estamos falando de qualidade sonora mesmo. O peso está sempre ali, no lugar e hora certos, marcando o ritmo, dialogando com cada riff, com cada solo de guitarra, com o baixo e bateria precisos que parecem formar um “todo” só, único.

As temáticas? Ressacas, mulheres, como evitar o próximo gole. O Diablo Motor parece a encarnação perfeita dos versos iniciais de “Cafa Song”: “Sempre fui ruim, nunca fui bom / E Hoje estou muito pior”. Já na abertura, com “Sem Moderação”, somos apresentados ao universo da banda: uma ressaca infernal embalada por um rock certeiro de tirar o fôlego. Aos poucos eles tiram o pé do acelerador para, em seguida, cravar o pé novamente. As participações especiais são um tiro mais que certeiro. O andrógino Johnny Hooker canta (e muito!) em “Silly Little Game”, única música em inglês do disco. Djalma Rodrigues, do AMP, empenha sua guitarra envenenada em “A Mesma História”. Tudo é tão bem produzido que dá até para perdoar letras como “Mas quando eu me sinto meio blue / O bom e velho rock n’ roll deixa tudo azul”. Pior é que, no caso deles, a frase torna-se absolutamente verdadeira.

Com produção assinada pela própria banda e co-produção à cargo do experiente gaúcho Iuri Freiberger, Diablo Motor é rock cabeludo, de óculos escuros, barba por fazer, calças rasgadas. Um amontoado de clichês visto pela superfície. E muito mais do que isso quando entendido em toda sua profundidade roqueira. Destaque também para o ótimo trabalho gráfico, com direito a encarte caprichado. Não à toa, o disco fecha com uma faixa intitulada “Não Pare”. E é essa a sensação que permeia todo o álbum.

Cotação – bom

Entrevista em vídeo com Juvenil Silva

Por Guilherme Moura em 3 de julho de 2013

Legal esse programa Dínamo sobre Juvenil Silva. Tem entrevistas com Juvenil Silva, Paulo André (Abril Pro Rock) e Evandro Sena (Iraq).

Por sinal na entrevista Paulo André diz que Juvenil Silva tocará novamente no Abril Pro Rock, só que ano que vem será nos dias principais (no Chevrolet Hall).


DÍNAMO #04 – Juvenil Silva
Juvenil Silva nos recebeu em sua casa e falou sobre a repercussão do seu álbum, Desapego, sobre a Noite do Desbunde Elétrico e seus amigos da chamada “cena Beto”.

FIG 2013: Programação do Palco POP e Guadalajara (atualizada 10/07/2013)

Por Guilherme Moura em

PROGRAMAÇÃO DO FIG / FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUNS 2013

Orquestra Rockfônica + Andreas Kisser fecham o Palco Pop do FIG 2013

PALCO POP

Sexta, 19/07
18h00 – Projeto CCOMA
19h10 – Juliano Holanda
20h30 – Bonsucesso Samba Clube
Intervalos e Encerramento – DJ 440

Sábado, 20/07
18h00 – Tigre Dente de Sabre (RS)
19h10 – Plugins
20h30 – Querosene Jacaré
Intervalos e Encerramento – DJ Patrick Tor4

Domingo, 21/07
18h00 – Projeto Armazém
19h10 – Circo Vivant
20h30 – Bárbara Eugênia (SP)
Intervalos e Encerramento – DJ Ravi Moreno

SEGUNDA, 22/07
18h00 – Márcia Pequeno
19h10 – Vertin Moura com participação de Lirinha
20h30 – Jorge Cabeleira
Intervalos e Encerramento – DJ Leon Selector

Terça, 23/07
18h00 – Ex-Exus
19h10 – Galanga (Fora do Eixo)
20h30 – Isca de Polícia com Arrigo Barnabé e Anelis Assumpção (SP)
Intervalos e Encerramento – DJ Vinicius Leso

Quarta, 24/07
18h00 – Sem Peneira pra Suco Sujo
19h10 – Tiger
20h30 – Silver Apples (EUA)
Intervalos e Encerramento – DJ Beto

Quinta, 26/07
18h00 – Yusa (Cuba)
19h10 – Tagore
20h30 – João Fênix
Intervalos e Encerramento – DJ Big

Sexta, 26/07
18h00 – Bande Dessinée
19h10 – Thiago Pethit (SP)
20h30 – Rodrigo Campos (SP? é o que toca cavaquinho no Passo Torto)
Intervalos e Encerramento – DJ Felipe Machado

Sábado, 27/07
18h00 – Juvenil Silva
19h10 – Afrobombas (SP/PE)
20h30 – Orquestra Rockfônica com participação de Andreas Kisser
Intervalos e Encerramento – DJ Renato da Mata

Surpresa boa: Krisiun (RS) tocará na segunda-feira no FIG 2013

Surpresa boa: Krisiun (RS) tocará na segunda-feira no FIG 2013

PALCO GUADALAJARA

Quinta, 18/07
21h00 – Ópera Bajado
22h10 – Gaiamálgama
23h20 – Caravana Rabequeiros de Pernambuco
00h30 – Naná Vasconcelos (Batucafro)
01h40 – Ney Matogrosso

Sexta, 19/07
21h00 – Zé Ricardo e Paula Lima
22h10 – DJ Dolores, Orquestra Santa Massa e Chico César
23h20 – Karina Buhr
00h30 – Dado Villa Lobos e Toni Platão
01h50 – Zeca Baleiro

Sábado, 20/07
21h00 – Hercinho
22h10 – Mundo Livre S/A 
23h20 – Orquestra Contemporânea de Olinda e Arto Lindsay
00h30 – Caetano Veloso
02h20 – Fafá de Belém

Domingo, 21/07

21h00 – Banda Flash
22h10 – Lourdinha Oliveira
23h20 – Augusto César
00h30 – Adilson Ramos
01h40 – José Augusto

SEGUNDA, 22/07
21h00 – Dune Hill
22h10 – Alkymenia
23h20 – Desalma
00h30 – Krisiun (SP)
01h40 – Raimundos (DF)

Terça, 23/07
21h00 – Lucas Notaro e Os Corajosos
22h10 – Pouca Chinfra
23h20 – Andrea Amorim e Roberto Menescal
00h30 – Belo Xis
01h40 – A Noite do Samba (Neguinho da Beija-Flor, Gera Vila Isabel e Gigante do Samba)

Quarta, 24/07
21h00 – Paulinho Groove
22h10 – Adiel Luna
23h20 – Os Sertões
00h30 – Santanna
01h40 – Maciel Melo

Quinta, 26/07
21h00 – Os Batata (é aquela banda cover anos 80 ou é outra?)
22h10 – Cidadão Instigado
23h20 – Deolinda (Portugal)
00h30 – Banda Eddie (Show Original Olinda Style) / Participação de Isaar e Karina Buhr
01h40 – Spok Frevo Orquestra e Elba Ramalho

Sexta, 26/07
21h00 – Maestro João Carlos Martins e Orquestra Jovem de Pernambuco
22h10 – Kiara Ribeiro
23h20 – Thaís Gulin
00h30 – Fagner
01h40 – Daniela Mercury

Sábado, 27/07
21h00 – Karla Rafaela
22h10 – Zé Brown e convidados
23h20 – Afrika Bambaataa (EUA)
00h30 – Mart’nália
01h50 – Arlindo Cruz

Programação completa do Festival de Inverno de Garanhuns / FIG 2013

Por Guilherme Moura em

No Youtube: “Di Melo, O Imorrível” (Documentário)

Por Guilherme Moura em 26 de junho de 2013

Di Melo, O Imorrível – Documentário

ou pelo link:
http://www.youtube.com/watch?v=SPedp3RSZ4U

“Di Melo, O Imorrível – Documentário

Em 2009 os realizadores Alan Oliveira e Rubens Pássaro em separado,um em Pernambuco e o outro em São Paulo, começam a pesquisa para realizar um filme sobre a vida de Di Melo. O próprio personagem acabou por promover o encontro entre os realizadores que decidem assim juntar forças e realizar um filme em conjunto.

Ainda no mesmo ano, Di Melo é convidado para participar do 19º Festival de Inverno de Garanhuns, onde realiza um show com mais de 50 mil pessoas, marcando assim a retomada do artista e também do início do processo de produção do filme. E em 2011, o filme: Di Melo – O Imorrível, faz sua estréia no mesmo Festival de Inverno de Garanhuns onde dois anos antes Di Melo retomava sua carreira.

O documentário conta a vida e a trajetória de Di Melo, que tendo gravado um único disco em 1975 e sumido, reaparece depois de mais de trinta anos para declarar-se “Imorrível”.

O filme possui 25 minutos, finalizado em 35mm, conta com depoimentos da cantora e DJ Catarina Dee Jah, do músico Charles Gavin, do artista plástico Ferreira, João Barboza – hoje escritor e ex-garçom do Bar Jogral, do cantor Junior Black, da cineasta Katia Mesel, do músico Léo Maia, de Luiz Calanca – dono do famoso sebo de discos Baratos e Afins, Ocimar sócio do também sebo Disco7, de Sérgio Barbo jornalista musical, dos cantores Simoninha e Max de Castro, além do proprio Di Melo e Jô sua esposa.”

Livro “Devotos 20 Anos” disponível para download

Por Hugo Montarroyos em 4 de maio de 2013

Devotos20Anos-Capa_online

O livro “Devotos 20 Anos”, que lancei em 2010, está disponível para download gratuito no site da Aeroplano Editora. O livro narra as trajetórias das bandas Devostos, Faces do Subúrbio e Matalanamão, e foi editado pela escritora carioca Heloísa Buarque de Holanda. Para quem não pôde comprar, agora é só pegar de graça aqui:

http://issuu.com/tramas.urbanas/docs/devotos_20_anos

Lúcio Maia desmente fim da Nação Zumbi

Por Hugo Montarroyos em 3 de maio de 2013

Lúcio Maia

 

Como foi informado aqui pelo leitor Pablo Lopes, o guitarrista da Nação Zumbi, Lúcio Maia, desmentiu, via twitter, que a banda tenha terminado. “Amigos, não sei quem começou esse papo sobre o fim na NZ, mas com certeza não foi alguém da banda. É mentira. Beijos e abraços.” https://twitter.com/luciomaia_/status/329723458835607552 .

 

Tapa na Orelha: Possível aposentadoria da Nação Zumbi denota decadência do mercado pernambucano

Por Hugo Montarroyos em 2 de maio de 2013

Nação

A notícia saiu ontem, na página do Facebook da Nação Zumbi. A banda não entrará em estúdio este ano e não sabe se voltará aos palcos em 2014. Ou seja, uma forma paliativa de anunciar sua aposentadoria. Alguns músicos da Nação atualmente se viram acompanhando Marisa Monte em turnê nacional e mundo afora. Outros seguem com projetos paralelos.

A grande questão é: a banda parou por conta de problemas de relacionamento entre os integrantes ou por que não consegue mais sobreviver no mercado? Se a principal banda pernambucana em atividade não suportou as atuais condições do mercado (aliás, existe um mercado hoje?), fico imaginando como anda a cena independente então.

Recentenmente li uma entrevista bastante pertinente que o produtor Paulo André concedeu a Rodrigo Edipo, do site mionline http://mionline.com.br/site/blog/mi-entrevista-paulo-andre-moraes-abril-pro-rock/. Ainda que o discurso seja velho conhecido, ele não deixa de ter razão em vários aspectos. Um deles: a iniciativa privada está pouco se lixando para a produção cultural pernambucana. A não ser que você considere cultura o São João da Capitá. Pois este evento, com aqueles nomes deprimentes que fazem uma musiquinha ordinária que têm a coragem de chamar de forró, tem o patrocínio de cinco grandes marcas e parceria com a Rede Globo Nordeste. Não é à toa que lota todo ano. É o que Paulo André chama de “público alienado”. Mas como seria de outra forma?  Existe algum espaço tão grande na mídia para artistas que façam algo realmente relevante? O que mais ouvi de pessoas que acompanham de longe (o tal público alienado) o que se produz aqui foi frases do tipo “não tem nenhuma banda boa (conhecida) na programação do Abril pro Rock”. E como é que vou culpar um sujeito que trabalha 12 horas por dia e só tem tempo de se informar via Rede Globo ou rádios jabazeiras de tamanha ignorância? É como disse Paulo André: uma programação com nomes como Volver, Television, Silva, Marcelo Jeneci e Móveis Coloniais de Acaju é para poucos no Recife.

Tenho medo dessa ignorância disseminada pela grande mídia. A Globo, em suas chamadas comemorativas, ainda se lembra de Maestro Forró e Spock. Mas onde estão Silvério Pessoa, Siba e a própria Nação Zumbi? Para a maior rede de televisão do país, eles simplesmente não existem, a não ser quando desfilam no Galo da Madrugada. Ou seja, uma vez por ano.

Com uma produção musical tão rica e reconhecida internacionalmente, é absurdo imaginar que rádio alguma toque os artistas locais. Atenção, estou me referindo a artistas, e não a coisas do gênero “Musa Do Calypso”.
Na grande maioria dos shows independentes locais, o público é sempre composto das mesmas vinte ou trinta pessoas. E, na maior parte das vezes, são produtores, jornalistas especializados e alguns amigos pingados. Ou seja, não existe público. E é fácil saber o motivo. Como existirá público se não existe mídia para divulgar?

Se nem a Nação Zumbi sobreviveu, fico imaginando um terrível efeito dominó que terminará com a carreira de todas as bandas locais. A verdade é uma só: o Recife é absolutamente ingrato com os talentos da sua terra. Basta ver os lambe-lambes da cidade para constatar a triste realidade cultural a qual estamos cercados.

Humberto Gessinger se apresenta em maio no Recife

Por Hugo Montarroyos em 26 de abril de 2013

Humberto Gessinger

 

O líder do Engenheiros do Hawaai Humberto Gessinger tem show marcado no Recife no dia 31 de maio. A produção do evento ainda não divulgou local e preço. Em breve mais informações.

Cobertura: Abril pro Rock – Segunda Noite

Por Hugo Montarroyos em 21 de abril de 2013

A noite pesada do Abril pro Rock foi daquelas para fã algum de metal, punk e hardcore botar defeito. E arrastou uma multidão (cerca de oito mil pessoas) para conferir os históricos shows do Dead Kennedys (mesmo fora de forma, a banda deu seu recado) e Sodom. Sem falar nas voltas triunfais de DFC (que não tocava há 18 anos no festival), Devotos (retornando após ausência de 12 anos no evento) e Krisiun (que tocou pela última vez no Abril pro Rock em 2002). Do lado pernambucano, a boa surpresa foi a banda feminina Vocífera, que faz um Death Metal de deixar muito marmanjo com inveja. O detalhe: mesmo inexperientes (ainda nem fizeram dez shows em sua curta carreira), as meninas do Vocífera peitaram o público do Abril pro Rock com extrema desenvoltura, fazendo um belíssimo show. A única coisa que não consegui entender na noite de ontem foi por que diabos André Matos fechou o festival? Ainda que tenha lá sua importância na história do metal nacional, ele não é nada perto de Sodom e Dead Kennedys. Tanto que muita gente já havia ido embora quando Matos colocou os pés no palco. Só ficaram mesmo os fãs de carteirinha. Fora este deslize, a noite de ontem beirou a perfeição.

Do começo: as meninas do Vocífera abriram com muita dignidade a noite. Apresentando um thrash metal que por vezes descamba para o death metal, Angela Metal (vocal), Lidiane Pereira (guitarra), Marcella Tiné (bateria), Erika Motta (guitarra) e Amanda Salviano (baixo) usaram a experiência que cada uma tinha no undergroun pernambucano em diferentes bandas para realizar um dos shows de abertura mais marcantes da história do Abril pro Rock. Suas composições são bombas que explodem deliciosamente nos ouvintes que curtem música pesada, e elas saíram do palco merecidamente reverenciadas pelo público. Bela surpresa que ainda deve fazer muito barulho por aí. Anotem este nome: Vocífera.

Depois foi a vez do também pernambucano Kriver entrar em cena. Mais experientes e com proposta diferente das garotas, a banda segue a linha Iron Maiden de ser. Ainda que sejam ótimos músicos, pecam um pouco no quesito originalidade. Uma de suas músicas, por exemplo, parece cópia de “Two Minutes To Midnight”, do Iron Maiden. Fora isso, sem queixas. Banda que também não se intimidou com o palco do Abril pro Rock. E, justiça seja feita, são tecnicamente impecáveis.

Já a potiguar Kataphero apresentou um thrash metal mais vigoroso, explosivo e direto. Prova de que Natal é um belo celeiro de bandas do gênero, o Kataphero possuí todas as qualidades que um grupo do estilo precisa: um bom vocalista e uma cozinha certeira de baixo e bateria. E deu a impressão de que muita gente do Rio Grande do Norte veio ver o show deles. Destaque para a ótima “Thanatolatria”, que fechou o set.

A americana Fang foi a primeira banda de legítimo hardcore da noite. E, a partir daí, as rodas de pogo fizeram a festa durante toda a noite. Empolgados, chegaram a dizer em bom português que amavam Recife e tocaram a sensacional “Here Comes The Cops”. O problema foi que o DFC veio na sequência, e depois do show arrebatador dos brasilienses, ficou difícil lembrar que o Fang havia tocado.

O show do DFC foi tão devastador (talvez o melhor da noite) que só as frases proferidas pelo vocalista Túlio renderiam uma resenha à parte. Eis algumas delas: “convido vocês a enfiarem o pau no cu do capitalismo”. “Obrigado, amigos. São 20 anos tomando no cu”. “Feliciano, pastor filho da puta”. E, a melhor delas, cantando a capela “amanheci sozinho / na cama um vazio / meu coração que se foi / sem dizer que voltava depois…” ao dizer que se o mundo fosse uma maravilha eles cantariam música romântica, e não o punk harcore violento que rendeu a maior roda de pogo da noite. Entre os vários momentos de destaque, os que mais marcaram foram “Boletim de Ocorrências”, “Demônios da Fé Cristã”, “Cidade de Merda” – em homenagem a Brasília -,“Vou Chutar a Sua Cara” e “Política 666”, cantada por todo o público. Show perfeito!

Sou o sujeito mais suspeito para falar deles, mas fazer o quê se o Devotos é phoda (com ph de “pharmácia”). Com produção capricahada, com direito a telão no fundo do palco que mostrava ilustrações do guitarrista Neilton, o trio mandou um torpedo atrás do outro, sem perder tempo falando com o público. Pareciam estar com raiva de alguma coisa. E isso, no caso deles, rende shows memoráveis. Abriram com “Nós Faremos Que Você Nunca Esqueça”, emendando com “Caso de Amor e Ódio” e “Rádio Comunitária pra Informar”. Pegaram um público ainda cansado pela apresentação do DFC, e demorou um pouco para que a roda de pogo pegasse fogo no show deles. Mas, pouco a pouco, o público foi ficando mais animado, especialmente na sequência de “O Herói”, “Homem Monstro”, “Alien”, “Vida de Ferreiro”, “Mas Eu Insisto” e “Vida de Ferreiro”. Cannibal falou menos  que de costume, mas foi certeiro: “precisamos valoriza um festival como o Abril pro Rock. Especialmente quando é feito aqui (Chevrolet Hall), onde só rola bagaceira” (se referindo aos festivais de brega que acontecem no local). No mais, encantaram jornalistas de fora que não os conhecia, especialmente quando Cannibal recitou os versos de “Nosso Ninho”: “moramos, não esqueça, esse é o nosso ninho. Quem nunca ouviu falar no Alto José do Pinho. Subúrbio de Recife, Zona Norte, urubu. Se for discriminar o meu lugar, vá tomar no cu”. E, depois de Cannibal  berrar “Abril pro Rock, que saudade do caralho”, emendou com “Eu Tenho Pressa”, que costumava ser a música de abertura nos shows deles no festival. Ainda foram responsáveis por uma roda de pogo só de mulheres (como vem fazendo nos últimos shows) em “Roda Punk” e fecharam com a exaltação de “Punk Rock Hardcore Alto José do Pinho”, com todo o público cantando em uníssono que o punk hardcore feito no Alto José do Pinho “é do caralho!”. Que se dane a suposta e inexistente imparcialidade do jornalismo: tenho um baita orgulho desses caras.

E, enfim, a lenda viva entrou em cena. Ok, Jello Biafra não estava lá. A banda mostrou cansaço. Em determinado momento, o vocalista substituto Ron Greer (que chegou a se jogar no palco), estava literalmente sem fôlego já na metade do show. Tanto que pediu desculpas ao público: “desculpe, mas o punk é velho”. O baixista Klaus Flouride e o baterista DH Peligro pareciam querer que tudo aquilo terminasse logo. E, ainda que o guitarrista East Bay Rey também não estivesse em sua melhor forma, ficou claro que é ele que ainda leva a banda nas costas. Alguns clássicos foram tocados com velocidade bem acima das versões originais, mais uma prova de que queriam se livrar logo do palco. Mas, caramba, tratava-se do Dead Kennedys. E o público não deu a menor pelota para esses deslizes. Ficou claro que a multidão tinha comparecido ao Chevrolet Hall para vê-los. A maior audiência da noite foi, sem sombra de dúvidas, deles. “Buzzbomb”, “Moom of River”, “Nazi Punks Fuck Off” e, principalmente, “California Uber Alles” levaram o público a um transe de insanidade bonito de ver. Foram 14 músicas tocadas em cerca de 50 minutos de show. Ainda que o Dead Kennedys atual pareça uma instituição à beira da falência, ontem, no Recife, para o público, eles ainda eram os reis do punk rock hardcore. Apresentação que certamente entrou para a história de Recife. Melancólico para quem guardava na memória os bons tempos de Jello Biafra. E inesquecível para os que viam a banda pela primeira vez.

O contraste ficou evidente quando o Krisiun entrou em cena. Com sua pegada pra lá de violenta, os gaúchos pareciam ainda melhores do que em 2002 (show que tive o privégio de ver no palco na época). Estão ainda mais raivosos e carrancudos. Ficaram empolgados com a reação do público. “Puta que pariu, tem gente pra caralho aqui”, se admirava o baixista e vocalista Alex Camargo. Com nove álbuns na carreira, o Krisiun fez uma boa síntese de sua longa carreira. A supresa ficou com a execução de “No Class”, em arranjo que lembrava o bom e velho Motörhead. Fora isso, o show deles foi o que sempre pareceu ser: a chegada do juízo final. Sério candidato a melhor da noite.

Depois foi a vez de outra lenda entrar em campo; os alemães do Sodom, que foram recepcionados por um público insano, que premiava o ótimo thrash metal do grupo em infidável roda de pogo. A grande surpresa da apresentação deles foi a execução de um clássico do punk, “Surfin Bird”, imortalizada pelos Ramones. Ao contrário do Dead Kennedys, o Sodom envelheceu bem, e seu show foi irretocável, beirando a perfeição. Deveriam ter fechado a noite.

E aí vem a grande pergunta: alguém (fora os fãs de carteirinha) ainda aguenta ouvir André Matos cantando “Carry On”? Até entendo que a noite precisasse contemplar o público do metal melódico, mas Matos não passa de um simulaco de Bruce Dickinson. Alguém que há anos vive dos restos de fama conquistados em época de Viper e Angra. Um cara que serviu de inspiração para a genial paródia do Masssacration, do Hermes e Renato. Ou seja, o nome menos tarimabado para fechar uma noite tão marcante quanto a de ontem. Tanto que uma boa parte do público já tinha ido embora durante a apresentação de Matos.

Mesmo com essa falha (grave, ao meu ver), a noite de ontem foi uma das mais emocionantes da história do Abril pro Rock. Tanto que a maioria do público (incluindo este que voz tecla) deve estar agora sem voz e com os ouvidos em frangalhos. Ainda que a morte do metal tenha sido decretada pela enésima vez, ontem ele provou que está mais vivo do que nunca. Amém.

Cobertura: Abril pro Rock 2013 – Primeira Noite

Por Hugo Montarroyos em 20 de abril de 2013

A primeira noite da vigésima-primeira edição do Abril pro Rock foi marcada pela diversidade. E de uma forma que não se via há muito tempo no festival. A sequência de shows que envolveu Volver, Television, Marcelo Jeneci e Siba foi prova cabal disso. Artistas com propostas absolutamente distintas, foram capazes de empolgar o mesmo público durante suas apresentações. No fator audiência, a surpresa acabou sendo o paulista Marcelo Jeneci: ficou claro que a maioria saiu de casa para ver o show dele. No mais, a lenda viva do rock Television emocionou a parcela mais velha do público, Volver fez show de quem já é grande há tempos no Recife e os holofotes acabaram mesmo todos  em cima de Marcelo Jeneci. Tanto que muita gente foi embora depois do show dele. A outra parcela que ficou até o final era composta por fãs de Siba e de Móveis Coloniais de Acaju, que fechou a noite.

Um verdadeiro dilúvio caiu no Recife no início da primeira noite do APR. Isto fez com que boa parte dos pagantes chegasse com certo atraso ao Chevrolet Hall. Mas, mesmo assim, no fim das contas o número de pessoas presentes acabou sendo surpreendente. Se formos levar em conta que a escalação do primeiro dia não trazia nenhum nome que garantisse a lotação do lugar (apesar de ser uma lenda, no frigir dos ovos são poucos os que conhecem Television no Recife) e o temporal que caiu no Recife, o público da primeira noite foi bem numeroso. Aquela coisa: longe de lotar; e também longe de estar vazio.

Coube ao local Tagore a tarefa de abrir a noite. Completamente influenciado pela fase inicial da carreira de Alceu Valença. Tagore brindou os poucos presentes ao seu show com um som psicodélico, fincado nas raízes nordestinas, mas sem abrir mão da universalidade – neste caso, o pop inglês -. É o oposto completo de sua antiga banda, o The Keith, que fincava os dois pés na geração – e na sonoridade – dos Strokes. Trata-se de rock com sotaque nordestino da melhor qualidade. Nota-se que é uma banda que buscou uma identidade e a encontrou de forma certeira entre discos de Alceu, um quê de lisergia e muita energia no palco. Belo show.

O mesmo não pode ser dito sobre Babi Jaques & Os Sicilianos. Performática, a banda mistura um pouco de teatro com uma sonoridade chocha e sem graça. A ideia é trazer o uniiverso mafioso dos anos 50 para a música. Algo que fica entre o “quase blues” e o “quase rock” para redundar em muita pose e pouca música. Força a barra para soar engraçado, mas, no fim das contas, acaba sendo, na maior parte do tempo, chato. Uma pena, pois são bons músicos, embora a vocalista Babi Jaques seja fraquinha. Mas, justiça seja feita, foram bastante aplaudidos durante todo o show.

O capixaba Silva acabou sendo a grata surpresa da noite. O mais novo frequentador dos cadernos culturais dos jornais de São Paulo tem uma proposta bem interessante. Com um formato minimalista, que se resume numa dupla que comanda teclado, bateria e programações, Silva reinventa o pop inglês dos anos 80 com um quê de gótico e leves tons de Smiths e Cure, mas tudo isso sobre camadas de psicodelia vindo dos teclados de Silva e da bateria digital (daquelas que o RPM usava), como na climática e densa “Falando Sério”. Ainda tiveram a cara de pau de mandar uma versão pós-moderna de “Taí” , marchinha que foi sucesso na voz de Carmem Miranda. Eis um show que vale a pena ver de novo quando passar por Recife.

Mesmo com o som do palco longe do ideal, o Volver conseguiu fazer um baita show. Abriram com “Próxima Estação” e foram emendando um hit atrás do outro. Voltaram ao início de carreira com a já clássica “Você que Pediu”, que trouxe ao Chevrolet Hall um pouco do gosto da cena pernambucana dos primeiros anos da década passada. Tiraram da manga a sensacional “Mallu”, em homenagem a Mallu Magalhães e cuja genial letra faço questão de transcrever na íntegra aqui: “Mallu quer ser mulher / Não tá pra brincadeira / Ela só faz o que bem quer /Não sabe ser de outra maneira. / Maluco é ser mulher / Nem todo mundo aguenta / De fato não é pra quem quer / Tem gente até que tenta. / Mallu já decidiu que vai mudar / Usando salto alto em vez de All Star / Nem viu que quase nada aconteceu. / Mallu deseja um dia se casar / Ouvindo Bob Dylan no altar dizendo “Ei garota, cê cresceu.” E ainda teve “Tão Perto, Tão Cedo” e “Clarice”, todas cantadas em uníssono pelos fãs, regidos por uma banda que, em dez anos de carreira, se mostra cada dia mais madura.

E aí veio o Television. E, ainda que para boa parte do público eles mais parecessem  coroas completamente deslocados de seu tempo, foi emocionante ver a banda comandada pelo lendário Tom Verlaine despejar seu som despojado de frescuras no Abril pro Rock. Da mesma geração de Ramones, Blondie e Talking Heads, o Television meio que sempre caminhou por fora. Sua sonoridade não se encaixa nem no punk puro e simples dos Ramones e muito menos na intelectualidade de sons globalizados do Talking Heads. Trata-se de uma sonoridade crua, simples, única. Os tiozinhos abriram o show sem se dirigir ao público. Não se importavam com os longos intervalos entre as músicas, onde gastavam bastante tempo afinando guitarras e até bateria! Meticulosos ao extremo, foram ganhando o público aos poucos, com gemas do quilate de “Glory”, do clássico álbum “Adventure”, lançado, vejam só, em 1978! Houve um pequeno momento de tensão, quando alguém jogou uma lata que quase acertou o guitarrista Jimmy Rip, que ficou furioso, encarou a plateia e mandou os seguranças tomarem as devidas providências. Mas Rip e o sujeito acabaram se entendendo, e depois da execução de uma das pedras fundamentais do rock, “Marquee Moom”, os coroas estavam com o público literalmente nas mãos, que “suportou” bem as infindáveis e famosas improvisações do Television no palco. Com menos de uma hora de apresentação, foi um show curto, grosso e inesquecível para quem é apaixonado pela hiostória do rock. Afinal, uma parte bem importante dela estava ali presente ontem.

Quando foi anunciado o nome de Marcelo Jeneci, muita gente correu para a frente do palco. Ali ficou nítido que ele era, para o público, a principal atração da noite. E Jeneci não decepcionou. Acompanhado da ótima vocalista Laura Lavieri, o ex-sanfoneiro de Chico César mostrou com eficiência por que é considerado hoje um dos principais nomes da música brasileira. Seja na poesia angustiada de “Tempestade Emocional”, no hit “Felicidade” ou na linda “Pra Sonhar”, Jeneci e banda esbanjaram experiência de veteranos. Não seria exagero dizer que deveriam ter fechado a noite, pois muita gente foi embora depois do show dele. Que, aliás, foi irretocável.

Depois foi a vez de Siba mostrar seu mais recente trabalho, “Avante”, que traz o músico mais urbano do que o habitual. Trocando a tradicional rabeca pela universal guitarra, Siba conseguiu um interessante diálogo entre suas pesquisas na Zona da Mata com uma sonoridade mais encorpada, mais elétrica, mas sem jamais abrir mão de sua raiz nordestina. A plateia cantou com ele boa parte de suas canções, que soam como uma espécie de cavalo marinho revisitado. A síntese disso pôde ser conferida em “Ariana” e “A Bagaceira”, que apresentam um siba mais leve, descontraído e roqueiro. Ou seja, um Siba mais parecido com o início da carreira do Mestre Ambrósio no início dos anos 90, quando a formação do grupo ainda era elétrica. É gratificante testemunhar como Siba tem crescido como músico e compositor. Ou seja, como o grande artista que é.

E o sempre competente e animadíssimo Móveis Coloniais de Acaju tratou de fechar a noite colocando todo mundo para dançar, como de costume. Driblaram os problemas de som (todos os shows no palco em que eles tocaram tiveram algum problema técnico) e fizeram a festa com hits como “Perca Peso”, de “Idem”, seu trabalho de estreia e, de longe, o melhor deles. Já passava das três da matina, e a sensação que ficou foi a das primeiras edições do Abril pro Rock, em que chuvas violentas eram sinônimo de shows inesquecíveis. Ontem, por alguns instantes, o Chevrolet Hall lembrou o Circo Maluco Beleza de 1996. E a lembrança não poderia ser melhor…

Abril pro Rock divulga ordem dos shows

Por Hugo Montarroyos em 18 de abril de 2013

Abril pro Rock

A produção do Abril pro Rock divulgou a ordem dos shows da edição 2013. Confira também o horário de abertura dos portões e o preço do ingresso.

Sexta: Abertura dos portões 20h
Ordem dos shows: Tagore (PE), Babi Jaques & Os Sicilianos, Silva (ES),Volver (PE), Television (EUA),Marcelo Janeci (SP), Siba (PE) e Móveis Coloniais de Acaju (DF)

Sábado: Abertura dos portões – 18h
Ordem dos shows: Vocífera (PE), Kriver (PE), Kataphero (RN), Fang (USA), DFC (DF), Devotos (PE), Dead Kennedys (EUA), Krisiun (RS), Sodom (ALE) e André Matos (SP)

Ingressos:R$ 30 (meia) e R$ 40 + 1 Kg de alimento não perecível (social)

Vendas no Chevrolet Hall, Lojas Renner e Ingresso Rápido http://abrilprorock.info/2013/20-de-abril/