Entrevista – Tagore

Por Hugo Montarroyos em 16 de abril de 2013

Tagore Suassuna

 

Tagore Suassuna tem apenas 25 anos, mas já acumula experiência de veterano. Começou a fazer barulho na cena pernambucana com o The Keith, banda que seguia o jeito Strokes de ser e onde Tagore era guitarrista e vocalista. Em 2009, tocou no Abril pro Rock com o The Keith. No ano seguinte, Tagore lançou-se em projeto-solo com o elogiado “Aldeia”, disco que mesclava tonalidades regionais com influências do pop britânico. Bem sucedido, Tagore montou banda homônima, venceu a edição 2013 do Pre-Amp,  está gravando disco novo (que deve ser lançado ainda nesse semestre) e foi escalado para tocar no Abril pro Rock deste ano, onde se apresenta sexta-feira, dia 19. Na entrevista abaixo, Tagore conta um pouco da sua trajetória, fala da mudança estética de sua sonoridade e de como será sua apresentação no Abril pro Rock

Como foi a transiçao do The Keith para o Tagore?

Apesar de eu ter na minha família diversos artistas de cunho regional, sempre curti mais artistas internacionais e particularmente ligados ao rock. Esse interesse repentino por uma sonoridade mais próxima das minhas raízes, com certeza se deve ao fato de eu ter ido estudar em  Caruaru e, de certa forma, bebido um pouco mais da “cultura do  barro”. Mas isso  se reflete em poucas das nossas músicas, no geral, tentamos trabalhar melodias mais universais, mais rock, porém, meu sotaque de inhame não tem como ser retirado, então sempre carregaremos uma fagulha regional nesse incêndio sonoro.

Como foi a experiência no Pre-Amp? Imaginava ganhar? Sentiu que o festival deu maior visibilidade ao Tagore?

Foi massa, de início pensamos em não levar a ideia de participar adiante, por não curtir mesmo esses eventos de “competição” musical, mas uma vez que decidimos entrar, foi de cabeça, focados em ganhar, claro. Se conseguimos, quero imaginar que tenha sido por merecimento e pelo trabalho de qualidade apresentado, e como julgar arte é semi-impossível, isso não significa que sejamos melhor que nenhum outro grupo participante. A visibilidade aumentou consideravelmente, e esperamos mais com a vinda do nosso disco ainda esse semestre.

Em recente entrevista ao Jornal do Commercio, você disse que só veio conhecer a obra de Alceu Valença em 2011. É recente esse seu “merguho” na música brasileira?

Seria um absurdo eu dizer que conheci Alceu apenas em 2011, mas foi nessa época em que tive contato com uma parte de sua obra que havia me passado despercebida, e que, por acaso, nela encontrei diversas semelhanças com a sonoridade que estávamos construindo. Foi então que “mergulhei” no Molhado de Suor e Espelho Cristalino, que são seus primeiros discos solo. Antes disso meu interesse pela música brasileira existia sim, e passava por artistas como Ave Sangria, Raul Seixas e Ronnie Von.

Da sua geração, talvez você seja o único músico a tocar em bandas diferentes no Abril pro Rock. Qual a sensação?

Meio louca, confesso. Toquei muito novo, tinha 21 anos e uma proposta de arte muito imatura ao meu ver hoje. Não que eu esteja um idoso, mas do alto dos meus 25, me sinto bem mais sólido como artista. Estar no mesmo palco 4 anos depois, mas com tudo completamente diferente à minha volta, vai ser no mínimo estranho.

Como será o show no Abril pro Rock?

Curto, suave e grosso.

Como acha que a mídia vem encarando o seu trabalho? Não está cansado de ser “rotulado” como roqueiro Zen?

Não podemos reclamar em termos de espaço, pois estamos sempre dando alguma entrevista pra matérias legais e de considerável alcance de público, o que enche um pouco o saco é o rótulo regionalista, mas que, como disse, não foi estabelecido por nós de forma intencional, é algo natural e vem principalmente das vozes. Mas garanto que  o que estamos guardando para os discos futuros vai gerar outra etiqueta.

A proposta do Tagore é se fixar no Recife ou a banda tem planos de se mudar para São Paulo ou Rio, onde o mercado é maior?

É o sonho adolescente das bandas daqui né? Ter um espaço habitável em alguma dessa duas cidades e correr atrás do lugar no olimpo. Por hora, nossa toca é aqui, mas temos planos sim de fazer essa transição experimental.

Se quiser acrescentar alguma coisa, o espaço é seu!

Gostaria apenas de agradecer a todos os responsáveis por esse projeto vir se tornando reconhecido e impulsionado, gente como vocês dos veículos midiáticos, e  os apreciadores da boa música.
No mais, até sexta.

Tapa na Orelha: Dez anos de RecifeRock! (ou a volta dos que não foram)

Por Hugo Montarroyos em 13 de abril de 2013

Galpão do Rock

 

E nessa brincadeira (que sempre levamos muito a sério) já se passaram dez anos. Começamos em 2003, muito em função da falta de referência de rock local na mídia pernambucana. Tínhamos acesso e informação sobre bandas filandesas e escandinavas na internet, mas não sabíamos o que acontecia na nossa própria cidade. Então resolvemos fazer um verdadeiro trabalho de formiguinha. Cobrir desde os shows de cunho mais underground no finado Dokas (aqueles em que as bandas, de tão iniciantes e desconhecidas, precisavam pagar para tocar) até os eventos mais tradicionais, como Abril pro Rock, Rec Beat e afins.

A ideia era  subverter as  prioridades. Nos pautávamos por Recife. Strokes e Madonna, por exemplo, só seriam temas de matéria no site se fizessem shows na capital pernambucana. Ou se alguma banda daqui abrisse os shows deles. Isso, na época, foi o grande diferencial do RecifeRock!. Estamos falando de um tempo pré-Orkut. Uma época em que o Facebook não existia para os brasileiros e a mídia impressa ainda se acostumava com a transição para o mundo digital/ virtual.

E tivemos muita sorte. Nascemos no momento em que surgia uma geração muito interessante de bandas: Mombojó, Vamoz!, Astronautas, Rádio de Outono, Volver e tantas outras. E numa época em que os veteranos Nação Zumbi, Mundo LivreS/A, Devotos (e tantos outros) viviam fases de transição em suas carreiras. Os eventos locais, na medida em que cresciam (o Abril pro Rock chegava à sua décima edição; o Rec Beat se mudava de mala e cuia da acanhada Rua da Moeda para o Paço Alfândega; nascia o festival No Ar: Coquetel Molotov), abriam espaço em suas grades para as bandas novas.

Ou seja, estávamos na hora e local certos. E, para nosso espanto, começamos a servir de fonte para a grande mídia, que não dava a menor pelota para o rock local. Mérito nosso? De forma alguma. Mas, sobretudo, da talentosa geração que surgia. Servíamos apenas de ponte, fato que já nos deixava bastante satisfeitos.

Nesses dez anos, como tudo na vida, tivemos altos e baixos. Em nosso melhor período, entre 2005 e 2006, chegamos a ter um “pequeno império midiático”. O site se desdobrou em revista, programa de rádio e televisão, onde tínhamos um quadro semanal no extinto e saudoso Sopa Diário, da TV Universitária. Em compensação, houve épocas em que demorávamos semanas para atualizar o site. A demanda e o trabalho eram enormes. E  a mão-de-obra, escassa. Fora a força de alguns colaboradores (aos quais somos gratos até hoje), na maior parte desses dez anos o RecifeRock! foi tocado por apenas três pessoas: Guilherme Moura, Bruno Negaum e este que vos tecla.

Profissionalmente, o RecifeRock! foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Um espaço que me dava total liberdade (e muitas vezes abusei dela) de escrever o que desse na telha. Que me permitiu publicar um livro e me rendeu um monte de “frilas” para uma série de revistas especializadas.

Hoje, graças aos céus, não somos os únicos a acompanhar a cena roqueira local. Ainda que o espaço continue pequeno, os jornais, rádios e TVs também cobrem, à sua maneira, o que rola no underground pernambucano. Outros sites, blogs  e revistas foram surgindo ao longo dos anos. Ainda que as rádios continuem com sua vergonhosa e jabazeira programação que todos nós conhecemos, alguns guerreiros solitários tentam cavar espaços para a cena local. E, tenho fé, um dia teremos uma rádio que se dedique exclusivamente aos artistas locais, muitos deles reconhecidos e premiados no exterior, mas absolutamente desconhecidos em sua terra.

Esta coluna é, entre outras coisas, uma forma de fazer um pequeno balanço dos dez anos de estrada do RecifeRock!. E, também, uma espécie de tratado. Ainda que de forma muito menor e acanhada, voltamos. Eu, particularmente, voltei de onde jamais deveria ter saído. Sei que muita gente ficará feliz com nosso retorno. E que outros (igualmente numerosos) torcerão o nariz. Mas, para mim, o mais importante é que estou feliz em voltar. Devagar e aos poucos. Um passo de cada vez, como foi no começo.

Shows voltarão a ter cobertura. Entrevistas e resenhas de discos serão feitas. O objetivo (pelo menos o meu) é que o RecifeRock! se transforme num noticiário diário sobre tudo o que é produzido no universo roqueiro local. Se isso de fato vai acontecer ou não, só o tempo dirá. O mais importante (sempre) é que estamos vivos. Custei a aprender  isso. E, agora que aprendi, não pretendo mais largar o osso. O RecifeRock! está de volta. Assim seja!

Entrevista – Volver

Por Hugo Montarroyos em 12 de abril de 2013

Volver divulgação

Talvez a única banda pernambucana de sua geração a conseguir completar dez anos de carreira, a Volver é uma das atrações do Abril Pro Rock 2013, onde faz show no dia 19. Por e-mail, Bruno Souto, vocalista, guitarrista e principal compositor da banda, faz um balanço dos dez anos de carreira, critica as políticas culturais de Pernambuco e diz como será a apresentação no Abril pro Rock

“De Canções Perdidas Num canto Qualquer” (2004) até “Próxima Estação” (2012), o que mudou na Volver?

Muita coisa, né? Primeiro que cada um dos três discos da banda foi gravado por formações diferentes e cada músico que passou pela banda deixou sua marca. Pra mim, o resultado disso é uma discografia da qual me orgulho muito. Cada disco, de alguma maneira, reflete o que aquele conjunto de pessoas era naquele momento.
Tudo começou com deslumbramento (até porque sempre foi um sonho meu ter uma banda), depois caiu a ficha da “realidade” (muitas bandas acabam aí) e continuo porque fazer música e estar num palco é uma necessidade.

A banda optou, já há alguns anos, em morar em São Paulo. Fez alguma diferença? A banda ganhou mais visibilidade com isso?

Antes de qualquer coisa, a banda se mudou pra São Paulo para, além da busca de uma maior visibilidade, para se sentir numa evolução. A gente sentia que estava “andando em círculos” estando no Recife. Queríamos vivenciar essa experiência de mudança, estar num lugar diferente e levando Recife na bagagem. E claro que valeu a pena. O próprio disco “Próxima Estação” foi um fruto direto dessa experiência, por exemplo.

Tive o privilégio de ser uma das primeiras pessoas a ouvir “Próxima Estação”, bem antes de seu lançamento. O disco contrasta momentos de absoluta descontração com outros de uma certa melancolia. Você acha que isso é sinal de amadurecimento como compositor?

Também. A troca de músicos e suas respectivas “bagagens” também contribuíram para o resultado final. Se até agora existiu uma fórmula na música da Volver, nela sempre esteve a melancolia e o bom humor.

“Mallu” e “Mangue Beatle” são canções um tanto “polêmicas”. Chegou a ter problemas por causa delas? Alguém chegou a ficar incomodado com versos como “Eu não consigo viver
nessa lama com vocês”?

Problema algum. Algumas críticas, sim. O que era perfeitamente normal, né? Nós pernambucanos temos uma leve queda por uma boa polêmica. Tá no sangue. (risos).  Até porque se eu não aceitasse críticas, não estaria fazendo música e dando a cara a tapa. Pra quem não entendeu tais versos, por exemplo (que, diga-se de passagem, foi a minoria), paciência. Não posso ensinar ninguém a entender contextos nem a ter senso de humor. Pra mim, tais músicas são, acima de tudo, divertidas.

Como será o show do Abril pro Rock? Será um apanhado de toda a carreira ou mais centrado em “A Próxima Estação”.

Tentaremos apresentar um apanhado, mas não sei se vai rolar fazer muita coisa. Até porque show de festival tem um tempo curto. E outra, além de ser o disco mais recente, é o segundo show do “Próxima Estação” no em Recife . É natural que queiramos tocar esse repertório, mas tentaremos dosar da melhor maneira possível.

 A Volver conseguiu chegar aos dez de carreira. Da geração de vocês, poucas bandas pernambucanas sobreviveram. Você encontra alguma explicação para isso?

Das bandas pernambucanas que não possuíam elementos regionais, surgidas em 2003, 2004, a Volver talvez seja a única que continua na ativa e sem pausas. Não sei se existe outra. Uma pena, pois aquela geração tinha muito potencial. Bandas muito talentosas…
E  se for parar pra pensar nesses dez anos de Volver, isso é um feito e tanto! Se não for inédito. Deixa eu pensar… Uma banda sem elementos regionais e sem mistura de estilos, surgida no Recife, que durou dez anos? Eu desconheço. Por favor, me diga se eu estiver equivocado.
Como explicar isso? Tesão.

A banda cativou um público realmente grande em seus shows no Recife. Por que acha que a Volver não conseguiu chegar ainda mais longe?

Realmente não sei te responder. E pra falar a verdade isso não me preocupa. Me preocuparia se estivesse compondo e lançando discos pra atingir públicos “x” ou “y”. Claro que quero que o maior número de pessoas possível escute a banda e minhas músicas, mas não vou mudar uma nota ou palavra sequer para que isso aconteça. Se conquistamos ou emocionamos, nesses dez anos, um número “x” de pessoas, foi através de canções que foram feitas e lançadas exatamente como queríamos. Sendo honestos com nós mesmos. E toda banda deveria pensar assim: primeiro se satisfaça. As pessoas gostarem ou não, é consequência.

A volver já consegue viver apenas de música?
Não. Eu consigo “sobreviver”, o que é um pouco diferente (risos).

Nesses dez anos de carreira, qual foi o melhor e o pior momento da banda?

Não conseguiria te responder isso. Foram tantos momentos inesquecíveis e outros nem tanto… Mas, para o bem e para o mal, foram experiências, e como tal, ajudaram a moldar o que a banda é hoje.

“A Próxima Estação” foi muito bem recebido pela crítica. Tem noção de quantas cópias do álbum foram vendidas?

De Cds, não tenho esses números exatos. De streamings e downloads deve ser um bom número, pois na plataforma oficial (que é o “Álbum Virtual” da Trama, onde o disco foi lançado e está disponível), o “Próxima Estação” é o quarto mais acessado e/ou baixado, à frente de nomes como Ed Motta, Nação Zumbi, Elis Regina, etc. (mesmo tendo sido lançado depois deles) Isso deve ser um bom indicativo. Fora os downloads em outros sites que não o da Trama.

A banda tem alguma mágoa com Recife? Há problemas de relacionamento com outros artistas locais por conta de divergências estéticas?

Mágoa de Recife? De forma nenhuma! Mas claro que sempre queremos o melhor pra nossa cidade, né? E é triste ver tanto potencial artístico e, por que não, comercial, praticamente engessado. Muito por culpa de políticas culturais viciadas, arcaicas e centradas no próprio umbigo.
E problemas por divergências estéticas com outros artistas, não tenho. Acho que a diversidade é necessária. Afinal, Recife é isso, né? Mesmo que uns não enxerguem nem realmente valorizem isso.

Se quiser acrescentar algo, o espaço é seu!

Espero que o site RecifeRock! volte com força total. Será um aliado importante (como já foi) pra cena musical e novos artistas de Pernambuco.

Entrevista – Rafael Cortes – Assustado Discos

Por Hugo Montarroyos em 11 de abril de 2013

O Assutado Discos é uma das iniciativas mais bacanas a surgir no mercado musical brasileiro nos últimos anos. Capitaneado por Rafael Cortes, o selo tem como principal missão garimpar raridades de artistas nacionais para lançá-las em vinil. Até agora, a Assustado Discos já lançou vinis dos Inocentes, Devotos e Wander Wildner, e está em processo de conclusão de um álbum de DJ Dolores. Na entrevista abaixo, feita por e-mail, Cortes explica qual a proposta do selo, faz um balanço do mercado atual do vinil e fala sobre os trabalhos de outros artistas que pretende lançar.

Assustado Discos

 

Como nasceu a ideia de criar a Assustado Discos?

O principal objetivo do selo é possibilitar que gravações raras, inéditas e históricas de artistas que já tenham uma estrada possam ser disponibilizadas para o público. Esse desejo por raridades me acompanha desde a adolescência, quando eu buscava os discos “piratas”, normalmente gravados ao vivo, das minhas bandas prediletas. Até hoje garimpo essas raridades e encontro pessoas com o mesmo interesse. Portanto, decidi viabilizar parte desse fetiche através do Assustado Discos. A vontade de criar um selo é antiga, o formato foi se lapidando com o tempo.

Qual o critério de escolha dos artistas?

Com o selo pretendo trabalhar com parceiros, pessoas que tenham o mesmo interesse e afeto em disponibilizar conteúdos dentro do conceito do Assustado Discos. Até agora, trabalhei com pessoas que já tenho proximidade ou que apareceram no caminho do selo e houve empatia por ambas as partes. O importante é ser música com verdade. Mas vale lembrar que a proposta do Assustado Discos é lançar material de bandas e artistas que já tenham uma história na música.

Como os artistas encaram a proposta do selo?

Normalmente, os artistas que tenho contatado tem se interessado bastante pela proposta e formato de trabalho do Assustado Discos. Assim como eu, eles vêem a oportunidade de disponibilizar para o seu público áudios muitas vezes esquecidos e que provavelmente nunca seriam remasterizados e lançados no formato vinil.

Qual é, em média, a tiragem de cada disco?

500 (quinhentas) cópias. Artigo de luxo.

 

Devotos Assustados

A proposta do selo sempre foi resgatar material inédito das bandas?

Sim, na verdade o resgate é de materiais raros e inéditos, não necessariamente de músicas inéditas, Por exemplo, disponibilizar versões demos de clássicos da banda, músicas com arranjos diferentes,
materiais ao vivo, projetos paralelos dos artistas e por ai vai. São os chamados bootlegs.

Como você avalia, atualmente, o mercado de vinil no Brasil?

Em um processo lento mas contínuo, o mundo está retomando a cultura do uso do formato de disco em vinil, existindo já um mercado cada vez mais crescente nessa área. O crescimento das vendas de vinil no Brasil, a julgar pelos números da Livraria Cultura, que é a maior vendedora do formato, cresceu 35% nos últimos dois anos. A venda online de discos de vinil está aumentando no mundo com o surgimento de novas plataformas disponíveis em smartphones e e-commerce dedicados exclusivamente a vendas do formato, tornando o “vintage” muito mais próximo do moderno. No comércio eletrônico brasileiro, os vinis vem superando, desde 2011, a venda de BlueRays e DVDs. O formato também está contribuindo como uma forma de combate ao comércio ilegal de distribuição de música. O mercado americano é o único que tem estatísticas precisas para isso e aponta um crescimento de ordem de 50% nos últimos dois anos. As vendas em lojas americanas já chegam a 4 milhões de discos/ano, mas um levantamento feito junto às fábricas, mostra que a produção já passa de 10 milhões (diversos músicos fabricam e vendem discos de vinil diretamente em shows, sem passar pelas grandes lojas). As principais gravadoras européias e norte-americanas, por exemplo, estão editando cerca de 70% de seus catálogos anuais em formato vinil.

Inocentes Assustados
A Assustado já lançou material do Devotos, Inocentes e Wander Wildner, e está trabalhando agora para o lançamento de um projeto do DJ Dolores. Você já tem em mente outros nomes que pretende lançar?

O selo tem conversados com alguns artistas, teremos muitas novidades ainda em 2013. Estamos buscando estratégias de financiamento para possibilitar a auto-sustentabilidade do selo, então muitos projetos estão nessa dependência. Mas para adiantar algumas “bolachas’ possíveis, devemos lançar um compacto com raridades do Little Quail and Mad Birds em parceria com um selo novo de Brasília, um LP duplo do coletivo re:combo. Tem parcerias com o selo pernambucano Joinha Records que irão se concretizar e por ai vai. Volto a falar com o Recife Rock! quando as coisas estiverem mais fechadas, ok?

Se quiser acrescentar algo, o espaço é seu!

O nome Assustado Discos foi inspirado nas festas “improvisadas” que aconteciam na década de 70 e começo dos 80 em Pernambuco. Desde a minha chegada na cidade, há pouco mais de 6 anos, encantei-me com o nome da tal festa que normalmente era animada por vitrolas portáteis e discos de vinil. Essa ideia de que a música já poderia ser portátil nessa época e que o bom e velho bolachão também tinha sua praticidade de certa forma contrapõe-se a certos discursos atuais. Para minha surpresa, a definição da palavra “assustado” no dicionário, traz referência a esses momentos.

Wander Assustados
O Assustado Discos pretende atender aos colecionadores e fãs de materiais raros. Desde já sei que nunca atingirei a grande indústria e esse não é o objetivo. Os discos terão tiragens reduzidas e serão quase como objetos de arte, já que além do conteúdo, as capas receberão um tratamento especial, sendo desenvolvidas por artistas plásticos. O logotipo do selo, por exemplo, foi criado pelo artista plástico pernambucano Rodrigo Braga.

O formato vinil sempre me interessou pela possibilidade de ter uma capa num tamanho maior e de ter o lado A e o lado B, que podem ser complementares ou não. Além disso, o aumento da procura e interesse pelo formato é uma realidade, hoje reencontramos prateleiras de vinil nas principais lojas especializadas do mundo e o retorno de lojas que trabalham especificamente com o formato, no Brasil.

Quando trato os discos quase como objetos de arte, me refiro à exclusividade que cada um tem. São objetos únicos e numerados, que em pouco tempo se tornarão raridades pela pequena tiragem. Essa música “difícil” também faz parte da história do universo musical, principalmente dos colecionadores.

Acredito que esses discos inevitavelmente irão parar na internet, e eu não sou contra essa realidade, a única coisa que pretendo preservar é a vontade das pessoas de possuir um objeto exclusivo e raro.

As lojas especializadas em vinil estão voltando com força total, o Assustado Discos mantém relação com lojistas no Brasil inteiro. Além disso, o selo pretende disponibilizar nas prateleiras das grandes livrarias e através da internet, que é a grande aliada das iniciativas independentes atualmente.

Lançamentos já realizados e disponíveis no mercado:
Devotos – Demos e Raridades (2011)
Inocentes – Garotos do Subúrbio (2012)
Wander Wildner – Rodando el Mundo (2012)

Resenha – Juvenil Silva – “Desapego”

Por Hugo Montarroyos em 10 de abril de 2013

juvenil-silva_desapego

 

A vida é mesmo cheia de surpresas. Quem diria que aquele moleque mod meio chato dos Canivetes (banda que fez certo barulho no underground recifense da década passada)  fosse se transformar, anos mais tarde, em um artista completo? É o que atesta este “Desapego”, estreia solo de Juvenil Silva. Como quem brinca com o tempo, sua faixa de encerramento, “De Volta para o Futuro Em Recife”, sintetiza toda a concepção estética do álbum, que tem gosto, cheiro e cor de final dos anos 60, sem, no entanto, abrir mão de ser atual. Seja no rockabilly de “Mixturado”, na manhosa “Pomba Gira Violeta” (que parece fundir Mutantes com Jorge Ben Jor) ou na instrumental “Tire o Peixe da Gaiola” ( coisa de quem ouviu muito Santana), Juvenil não perde a mão em um segundo sequer. São todas canções que dão vontade de apertar “repeat” após a execução.

A banda é extremamente afiada, e soa como se estivesse se divertindo em qualquer quintal ou garagem da vida. É psicodélico sem ser chato. E, ao mesmo tempo, despretensioso sem soar simplista. As letras são um achado, como as de “Desapego” e “Se Ela Nunca…”. O que mais impressiona é a capacidade de Juvenil de percorrer por diversos territórios da música (tropicália, blues, rock rural, Novos Baianos, Raul Seixas, Bob Dylan) sem perder a coesão. Tudo está no seu devido lugar. É daqueles álbuns difíceis de citar um destaque. Deram até um nome para este tipo de trabalho: obra. Se “Desapego” não é uma obra-prima, é um disco que deve ser entendido pelo todo, e não apenas  pelas partes.

E é assim, juntando as partes de tudo que vê, ouve e respira, que Juvenil concebe um trabalho extremamente inspirado, verdadeira delicadeza bruta de quem deixou de ser apenas um roqueiro inquieto para se tornar um artista de alto calibre. Tom Zé ficaria orgulhoso.

Cotação – ótimo

Cobertura: APR Club com Dunas do Barato e Jorge Cabeleira e o Dia Em Que Seremos Todos Inúteis

Por Hugo Montarroyos em 6 de abril de 2013

Em sua vigésima-primeira edição, o Abril pro Rock decidiu resgatar o APR Club, prévia que serve de aquecimento para os dias de festival. E, de forma inteligente, convidou duas bandas de gerações absolutamente distintas: Dunas do Barato e Jorge Cabeleira e o Dia Em que Seremos Todos Inúteis. O espaço escolhido foi o Downtown, que recebeu um bom público em noite bastante concorrida no Recife, com shows de Rodrigo Barba e de Milton Nascimento no mesmo horário.

A história do Jorge Cabeleira se confunde com  a do Abril pro Rock. Da mesma geração de Chico Science e Mundo Livre S/A, o Jorge Cabeleira pavimentou sua carreira justamente nas primeiras edições do APR. Trata-se de uma das bandas mais enigmáticas do Recife. Apesar do respaldo que teve da crítica na década de 90, não conseguiu se firmar no mercado numa época em que todos os olhos estavam voltados para a capital pernambucana. Mesmo com o disco de estreia produzido por Frejat, o Jorge Cableira nunca chegou a estourar, numa dessas clássicas injustiças da história do rock. Mas marcou época. Em especial no Recife e no Abril pro Rock. E é muito bom vê-los de volta a ativa. A psicodelia de tonalidades nordestinas melhorou bastante ao vivo, ganhou corpo, desenvoltura e – especialmente – maturidade, algo que parecia faltar ao grupo no começo da carreira.

Coube ao “novato” (já são quatro anos de carreira) Dunas do Barato a tarefa de abrir a noite. E fizeram com muita competência. É nítida a influência dos Novos Baianos, mas a banda atira em outras direções, com um quê de blues e de música de cabaré. A vocalista Natália Meira – que se apresentou descalça – tem boa voz e parece já ter bastante experiência no palco. Aqui e ali surgiram alguns problemas técnicos, que foram contornados com bom humor e jeitão de quem está tocando em casa. As letras possuem boas sacadas, e o clima fica muito interessante quando eles aderem ao peso, misturando guitarras que seguem a cartilha de Jimi Hendrix com frevo eletrificado. No mais, cumpriram seu papel: animaram o público que esperava pelo show do Jorge Cabeleira.

O público merece um parágrafo à parte. Enquanto trintões (e até quarentões) saudosos de outros carnavais ocupavam as primeiras filas, gente que nem era nascida quando o Jorge Cabeleira lançou seu primeiro disco circulava pelo Downtown dando a nítida impressão de jamais ter visto um show deles. Devem ter saído de lá com uma ótima impressão.

O tempo fez bem ao Jorge Cabeleira. A banda, que nos anos 90 não chegava a ser um primor ao vivo, finalmente conseguiu transmitir todas as nuances de seus dois discos no palco. Já na abertura, com “12 Badaladas”, ficou claro que a banda faria um show irretocável. Sua marca registrada, a ótima mistura entre o rock psicodélico dos anos 70 e a música nordestina, foi estampada com maestria no show de ontem. “Jabatá e o Diabo”, uma das melhores do álbum de estreia, foi executada com primor. O sanfoneiro Daniel Bento foi convocado para tocar em “A História de Zé Pedrinho” e “Nervoso na Beira do Mar”. Fato curioso: Dirceu Melo se enrolou com a letra de “A História de Zé Pedrinho”, uma espécie – pela temática – de “Faroeste Caboclo” sertaneja.

O cover matador de “Os Segredos de Sumé”, de Zé Ramalho e Lula Cortes, ainda emociona. Assim como a bela versão para “Sol e Chuva”, de Alceu Valença.

Mas é nas composições de punho próprio que o Jorge Cabeleira mostra algo que é cada vez mais raro na música nos últimos anos: identidade.  O Jorge Cabeleira conseguiu configurar uma sonoridade própria se apoiando em elementos diversos como Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Lula CortesZé Ramalho, adicionado guitarras pesadas para criar um som único. Está longe de ser pouca coisa.

Quando fecharam o show, com “O Dia em Que Conceição Subiu a Serra”, fui transportado de volta para o Circo Maluco Beleza, no Abril pro Rock de 1996. Fenômeno que só a boa música consegue fazer. E isso, ficou claro, o Jorge Cabeleira tem de sobra.

Volver lança disco com nova formação

Por Guilherme Moura em 9 de março de 2013

A nova formação da Volver

Bruno Souto: Vocal e guitarra
Kleber Croccia: Guitarra
Thiago Nistal: Bateria
Augusto Passos: Baixo
Missionário José: Teclado

Carnaval Recife 2013: Programação Completa

Por Guilherme Moura em 25 de janeiro de 2013

Acabou de sair…
atualizada 25/10/2012 14h55

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Nação Zumbi e Mundo Livre S/A gravam repertório uma da outra para a gravadora DeckDisc

Por Guilherme Moura em 26 de outubro de 2012

Do diário de Pernambuco de hoje (26/10/2012)

Dobradinha manguefônica
Nação Zumbi e Mundo Livre S/A gravam repertório uma da outra para a gravadora DeckDisc

Camila Estephania

Publicação: 26/10/2012 03:00

Mundo Livre grava sua parte do projeto no Recife e a Nação Zumbi (abaixo) está em estúdio paulistano

Duas bandas irmãs, que surgiram no cenário nacional no início da década de 1990, agora travam um duelo. Para alívio dos fãs das pernambucanas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, o único vencedor desse embate deve ser o público, que ganhará novas leituras para as canções dos grupos. O desafio acontece devido ao projeto do produtor Rafael Ramos, da gravadora DeckDisc, que propõe a cada banda que grave sete músicas da sua “oponente”.

A dobradinha formada por Nação Zumbi e Mundo Livre S/A já é a segunda edição do projeto, que estreou com o lançamento do álbum Ultraje A Rigor vs. Raimundos, em julho deste ano. A experiência com os dois grupos do Sudeste teve boa resposta, chegando a ser o disco mais vendido pelo iTunes nacional, e inspirou o produtor a dar continuidade à iniciativa, desta vez, pelo Nordeste. “É um mote bacana, principalmente pelo momento, já que a Nação Zumbi havia anunciado que ia dar um tempo neste ano para se dedicar a outros projetos. A gente ficou feliz e até surpreso de eles se reunirem para gravar o Mundo Livre”, conta o vocalista da Mundo Livre S/A, Fred ZeroQuatro.

Nação Zumbi

Se na primeira edição do projeto o que ligava as duas bandas envolvidas eram as letras escrachadas, desta vez os grupos escolhidos se amarram pelo próprio contexto do Mangue Beat. Consideradas fundadoras do movimento, que teve início em 1992, as duas bandas, no entanto, são bastante distintas em sonoridade. Se a Nação Zumbi preza mais por pegadas mais originais, a Mundo Livre investe em harmonias mais trabalhadas. “Acho que não há um grau de dificuldade maior pra ninguém, depende da afinidade com o repertório”, opina ZeroQuatro, que conta já ter havido uma canção da Nação que o grupo se recusou a gravar, pois já havia sido muito modificada durante os ensaios que tiveram início na semana passada.

O repertório do disco, que deve ser lançado ainda no final deste ano, permanece em segredo. “A gente não sabe o que eles estão gravando, nem eles sabem da gente. Acho que esse mistério faz parte do tesão da história. Eu fico na maior ansiedade para ouvir o que eles estão fazendo, e acho que eles também sentem o mesmo”, explica ZeroQuatro. Como as duas bandas gravam em estados separados, com a Mundo Livre S/A no estúdio Mr. Mouse, em Olinda, e a Nação Zumbi em São Paulo, tem sido fácil manter esse sigilo. O vocalista ainda conta que por conta do orçamento não ser tão alto, a produção soma iniciativa independente, mas que também permite mais liberdade ao trabalho. “Na semana passada tomamos uma decisão de mexer em uma música que deve deixar até Chico (Science) ‘incrível’”, brinca.

Jorge Du Peixe, por sua vez, explicou que os ensaios da Nação Zumbi devem ficar mais intensos durante esta semana e que ainda não poderia adiantar muitas informações sobre o material trabalhado. Como o projeto está em sua fase inicial, Fred revela que ainda não foi conversada a possibilidade de uma turnê para o disco. E conta que guarda ótimas lembranças da união das duas bandas juntas, no palco, com a Orquestra Manguefônica – “Vontade para turnê não falta”, garante.

fonte: http://www.impresso.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/cadernos/viver/2012/10/26/interna_viver,35324/dobradinha-manguefonica.shtml

Saiu o resultado do Funcultura Independente 2011/2012

Por Guilherme Moura em 19 de outubro de 2012

Resultado Funcultura 2011/2012

Programação completa do FIG 2012 – Festival de Inverno de Garanhuns

Por Guilherme Moura em 26 de junho de 2012

Acabou de sair a programação completa do FIG 2012. Vou filtrar os destaques e ir postando :)

Fig 2012

Terceiro Lote: Arte Music Festival com Jennifer Lopez e Ivete Sangalo

Por Guilherme Moura em 25 de junho de 2012

Arte Music Festival com Jennifer Lopez e Ivete Sangalo

Ingressos do Arte Music Festival chega ao terceiro lote

O Arte Music Festival já está com terceiro lote de ingressos à venda. Restam poucos acessos de frontstage para o evento que traz ao Recife Jennifer Lopez, Ivete Sangalo e Dexterz, no dia 1º de julho na área externa do Centro de Convenções de Pernambuco. Os bilhetes custam R$180 (pista inteira) e R$90 (pista meia), R$ 170 (frontstage) e R$370 (camarote open bar). Além do site www.bilheteriavirtual.com.br e bilheteria do Cecon, as entradas também podem ser adquiridas nas lojas Chilli Beans dos shoppings Recife, Guararapes, Plaza e Tacaruna.

A expectativa da organização é receber um público de aproximadamente 25 mil pessoas. A principal atração da primeira edição do festival será a tão esperada apresentação de Jennifer Lopez que traz ao Brasil a turnê “Dance Again”. O nome nacional de destaque no evento será a celebridade mais influente nas redes sociais, a baiana Ivete Sangalo. A apresentação com J-Lo no Arte Music Festival promete ser histórica, com a união do público das duas divas.

O pós- show fica por conta do grupo Dexterz que mistura música eletrônica, clássica e percussão .A banda é integrada por artistas de peso: DJ Júlio Torres, o violonista Amon Lima e o baterista Junior Lima. O trio fecha com chave de ouro a primeira edição do festival.