Resenha: Rodrigo Morcego – Café Preto/Jornal Velho

Por Hugo Montarroyos em 10 de setembro de 2013

Morcego

 

Não há novidade alguma em dizer que Rodrigo Morcego é um dos músicos pernambucanos mais tarimbados e experientes de sua geração. O que espanta, de fato, é a brutal evolução entre o El Mocambo (sua banda anterior) e este seu atual “Café Preto/ Jornal Velho”. Tudo que parecia forçado e um tanto pasteurizado no El Mocambo é convertido na mais pura sinceridade “blueseira” neste novo trabalho.

O álbum, produzido pelo onipresente Iuri Frieberger, transpira alma em cada poro do disco. E as letras, sempre um problema para quem ousa cantar blues em português, são muito bem trabalhadas. A banda, formada por Morcego (guitarra, violão e voz), Gilson Biu Jr (baixo) e Jô Pinto, mostra uma intimidade com o gênero digna de quem passou a infância colhendo algodão nos cafundós dos Estados Unidos. O que, óbvio, não é o caso deles.

Mas sua música passa tanta verdade que, não fosse o idioma, poderia perfeitamente ser vendida como autêntico produto americano – e dos bons!

Entre os muitos destaques, estão “Irmãos Blues”, que abre o álbum, “Ladjane” e “Hey Mama”.

A arte gráfica imita as páginas de um jornal, em que os títulos são formados por manchetes, subtítulos resumem o fato e as letras aparecem em forma de notícia. Até poesia Morcego conseguiu fazer, caso de “Caçava os sonhos antes de dormir / Os olhos fechados com receio de acordar / Após a ceia catava as lembranças / Ao fim do dia canções de ninar. Mímica e sinais estranhos / Dança que pode esquecer / Ouve o brilho do sorriso medonho / Nos meios caminhos do verbo amar”.

“Café Preto/Jornal Velho” é um primor de produção, de execução e de talento. Como diz Rodrigo Morcego – que canta muito bem em todo o disco – em “Carrego do Satanás (uma ode ao velho tema do bluesman que vende a alma ao capeta), “Se você quer ouvir rock n’ roll / Vou tocar um blues e te mostrar quem sou”. Muito prazer, meu velho! Seu jornal pode ser velho, mas seu café é encorpado e preto como os melhores blues.

Cotação – Ótimo

 

 

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